Mostrando postagens com marcador cerebro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cerebro. Mostrar todas as postagens

sábado, 15 de julho de 2023

aula 5 - unidade teoria do desenvolvimento do desenvolvimento psicossexual infantil

 

CONVERSA INICIAL

Bem-vindo(a)!

Nesta aula, especificamente, trataremos dos textos referentes à questão das crianças nas escolas e sua relação com seus professores, as fantasias primitivas e como elas compõem a formação edipiana, assim como os contos de fada no imaginário infantil e nas referências de mundo adulto que as crianças aprendem por meio das histórias que escutam.

TEMA 1 – ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PSICOLOGIA DO ESCOLAR

O artigo “Algumas reflexões sobre a psicologia do escolar” foi escrito por Freud em 1914, quando o colégio onde estudou completava 50 anos de existência. No texto, Freud recorda sobre a questão da subjetividade do tempo e como algumas coisas permanecem em nós mesmo depois de muitos anos. Quando estamos na escola, aprendemos a obedecer a autoridade dos professores, a pedir licença para ir ao banheiro e a respeitar os colegas. Mesmo depois de adultos e mais velhos, muitos desses aprendizados permanecem conosco, como quando dizemos “sentido” para um militar aposentado e ele ainda se sente impelido a obedecer e seguir. Ao mesmo tempo, perceber a mudança física nas pessoas à medida que o tempo passa, perceber que envelhecemos e que, ao mesmo tempo em que nos recordamos das pessoas como eram, percebemos as diferenças temporais, nos mostram como a percepção do tempo e a passagem cronológica são coisas muito diferentes.

Além disso, Freud (1914) também se pergunta no artigo o quanto a personalidade de seus professores o influenciou nas escolhas profissionais futuras, talvez até muito mais do que o próprio conhecimento em si. Na própria história da psicanálise, pudemos observar o quanto Charcot foi uma parte importante na estruturação da teoria psicanalítica, tanto quanto – ou talvez até mais – que a própria proposta em si. Para aqueles que já leram algum livro da série Harry Potter, podemos atestar também como Dumbledore e os outros professores foram fundamentais para que Harry, o protagonista desses livros, formasse a própria personalidade e fizesse suas próprias escolhas dentro do mundo bruxo. Fora dos livros, observamos com frequência, durante as sessões de orientação vocacional, como é comum os jovens escolherem suas profissões não por causa do mercado de trabalho ou porque o conteúdo lhes agrada, mas pela projeção de poderem vir a se tornar um professor como aquele que teve durante sua infância e adolescência. Poucas crianças, inclusive, seguem para carreiras cujos modelos de profissionais são pessoas chatas, intolerantes, sem graça ou detestadas pelos demais alunos. E como muitos depois desistem do caminho que começaram a trilhar pelo fato de que as motivações iniciais eram limitadas a uma só referência. Essa figura do professor (ou tutor) funciona como a figura da imago, nome dado pelo próprio Freud (1914) para definir o que é essa figura: são como substitutos de pai, mãe, irmãos ou de outras pessoas importantes para a vida das crianças. Tal é a importância dessas figuras para o desenvolvimento psicossexual infantil que muitos relacionamentos posteriores poderão inclusive arcar com essa herança deixada pela imago. A imago é tão importante que, quando uma criança tem uma figura paterna ou materna ausente ou inexistente, por exemplo, a imago pode surgir como um substituto para a formação dos complexos. À medida que acompanhamos os textos freudianos, observamos inúmeros relatos de pacientes que contam que, quando crianças, tiveram a cena da fantasia primária (fantasia “ilusória” sexual entre os pais) com a presença da babá no lugar da mãe, por exemplo.

As atitudes das pessoas umas para com as outras é fundamental para a formação do comportamento posterior, seja afetivo ou profissional; inclusive, para os pré-julgamentos que se estabelecem quando conhecemos alguém (como aquela sensação de que não gostamos de alguém sem saber o porquê, ou sentimos uma simpatia imediata sem nenhum motivo aparente). Quando há a figura da imago, ela se torna uma opção de identificação, de referência daquele que poderá posteriormente ser um modelo de profissional, de pai ou mãe, de cônjuge ou de indivíduo social. Segundo a explicação de Freud (1914, p. 249):

Na segunda metade de nossa infância, dá-se uma mudança na relação do menino com o pai – mudança cuja importância não pode ser exagerada. De seu quarto de criança, o menino começa a vislumbrar o mundo exterior e não pode deixar de fazer descobertas que solapam a alta opinião que tinha sobre o pai e que apressam o desligamento de seu primeiro ideal. Descobre que o pai não é o mais poderoso, sábio e rico dos seres; fica insatisfeito com ele, aprende a criticá-lo, a avaliar o seu lugar na sociedade; e então, em regra, faz com que ele pague pesadamente pelo desapontamento que lhe causou. Tudo que há de admirável, e de indesejável na nova geração é determinado por esse desligamento do pai.

Quando refletimos sobre o trecho acima, nos damos conta de que com os professores recebemos informações que nos fazem refletir sobre o que nossos pais dizem, nos trazem argumentos para concordar ou discordar dos pais e nos auxiliam para que tenhamos nossas próprias opiniões formadas. Por isso, é comum, quando recebemos um questionamento de pais sobre qual escola seria a mais adequada para nossos filhos, a resposta em maior sintonia com essa visão freudiana é que os pais encontrem uma escola cujos valores sejam os mais próximos dos valores da família, pois a divergência de valores é que pode, com o passar do tempo, criar um conflito interno na criança, na medida em que aquilo que é dito em casa é diferente do que é dito na escola, obrigando a criança a contrabalançar cada informações nova e ter dificuldade, inclusive, de se sentir segura com as informações que recebe, pois elas não convergem. Da mesma forma, quando há sinergia entre os valores da escola e da família, fica mais fácil o reconhecimento dos pais pelos professores, pois essa relação será repetida por cada criança.

TEMA 2 – UMA RECORDAÇÃO DE INFÂNCIA DE DICHTUNG UND WAHRHEIT

No texto “Uma recordação de infância de Dichtung und Wahrheit” (1917), Freud continua a abordagem do tema da imago, que na verdade depois será absorvida por Jung para tratar também do “protótipo inconsciente de personagens que orienta seletivamente a forma como o sujeito apreende o outro [...] é assim que a imago de um pai terrível pode muito bem corresponder a um pai real apagado” (Laplanche; Pontalis, 2001, p. 234-235). Para Freud, quando nos recordamos de determinados fatos da infância, temos dificuldade de discernir o que realmente vimos ou ouvimos e o que nos foi contado posteriormente por outras pessoas. No relato de Goethe sobre sua infância (Dichtung Und Wahrhei), ele conta que seus vizinhos, um dia, estavam quietos e sérios ao lado de sua casa, e Goethe decidiu diverti-los jogando seus pratinhos e brinquedos para que quebrassem. As crianças começaram a rir e estavam se divertindo bastante, e quando os brinquedos acabaram, Goethe decidiu ir até a cozinha pegar pratos e panelas para jogar e quebrar, continuando a “diversão”. Em um dado momento, um adulto o interrompeu e o fez recolher os objetos quebrados, e esse momento de recolher os objetos quebrados durante bastante tempo ficou gravado em sua memória, mesmo sendo uma memória muito antiga. Assim, vemos que em alguns casos podemos nos recordar de uma ou outra informação muito antiga, de quando éramos bebês ou crianças muito pequenas, mas essas lembranças são escassas e geralmente dependem de uma série de associações para que se tornem relevantes o suficiente para serem recordadas. No caso de Goethe, embora a travessura recordada por ele tivesse causado prejuízos domésticos, a impressão de inocência liga-se a essa lembrança porque possivelmente ela se fixou como uma advertência para não esticar seu domínio em demasia, ou aplicar suas habilidades em situações inadequadas. As crianças, inclusive, são recorrentemente capazes de gravar situações nas quais fizeram uma travessura e foram advertidas, e conseguem derivar essa experiência para experiências semelhantes com colegas e compartilhar o aprendizado, apropriando-se da lição para mostrar seu amadurecimento.

O texto relata ainda que um paciente de Freud (1917) lhe trouxe que, aos 27 anos, tinha conflitos com sua mãe, os quais repercutiam em sua capacidade de amar e de levar uma vida independente. Quando esse rapaz começou a se recordar de sua infância, lembrou de que era uma criança desobediente, que gostava de desafiar a autoridade de sua mãe. Quando ela ficou grávida e ele ganhou um irmão, ficou gravemente enfermo e sua mãe teve que cuidar dele, ao qual se dedicou tanto que ele se recordava dessa época como “a melhor época de sua vida”, pois tinha constantes atenção e afeição da mãe. Quantas vezes não nos deparamos com a experiência clínica de ver clientes (adultos e crianças) que, no fundo, gostariam de retornar ao ventre materno, onde se sentiam aquecidos, eram alimentados e ficavam com suas mães 100% do tempo literalmente. Desse modo, quando esse paciente chegou ao consultório de Freud, resgatou lembranças de quando era criança e os sentimentos que teve por seu irmão – com o qual tinha ótimo relacionamento – e por essa mãe – que era uma fanática religiosa. Depois, em um acesso de raiva, quando soube que ganhara um irmão, o paciente pegou os pratos da mãe e os arremessou longe, tal como o fez Goethe.

No caso de Goethe, Freud (1917) refaz a genealogia de sua família e resgata o momento em que um de seus irmãos falece ainda criança. No enterro, Goethe não derramou lágrimas, embora esse jovem irmão fosse seu constante companheiro de bagunças, e quando sua mãe depois pergunta se ele não sentia falta desse irmão, Goethe pega diversos papéis e mostra à mãe que ele estava tentando ensinar esse irmão, assumindo como que uma posição de pai ou de imago da outra criança. Com a morte, Goethe parecia aborrecido, mas ao arremessar os pratos ele possivelmente pode extravasar o sentimento de raiva que sentia, tal como o paciente de Freud arremessara os pratos ao saber do nascimento do irmão. Aliás, não é incomum nós arremessarmos objetos ou quebrarmos coisas para nos sentirmos melhor quando estamos com raiva ou tristes por algum motivo. As crianças, quando quebram objetos sabem, inclusive, o que estão fazendo, e sabem que esse comportamento irá gerar uma reação dos pais, com consequente castigo. Quando continuam a fazer traquinagens, normalmente há um objetivo de desafio e um sentimento de rancor que precisa ser demonstrado.

Ainda em outro relato, um paciente conta a Freud que se recordou de quando era criança e que seu pai chegou a ele, rindo, e lhe disse que ele teria um irmão. Pouco tempo depois, o menino jogou diversas coisas na rua – escovas, sapatos, roupas. Depois, ele se lembra de ter estado com os pais em um hotel e começado a fazer tanto barulho que seu pai precisou bater-lhe para parar. De acordo com Freud (1917), quando as lembranças de um paciente surgem na sequência, ainda que não façam parte de um mesmo momento ou com um mesmo grupo de pessoas, elas precisam ser entendidas como tendo alguma relação do ponto de vista psíquico, ou não seriam apresentadas simultaneamente.

Ainda que, em determinado momento, as crianças muito pequenas criem o hábito de jogar coisas para os pais buscarem, esse comportamento é diferente do comportamento que descrevemos acima, de jogar objetos pela janela. No primeiro caso, o ato de jogar coisas e esperar que os adultos busquem, envolve um comportamento de formação de vínculo seguro, um comportamento natural das crianças em uma fase específica e que faz com que elas queiram “testar” o amor dos pais por meio do jogar e de receber de volta. No segundo exemplo, trata-se de um comportamento de extravasar a raiva, jogar sem ter o objetivo de que aqueles objetos voltem. Hoje em dia, quando sentimos raiva de algo, bater em algo como simbologia de extravasar a raiva que sentimos é terapêutico, perfeitamente saudável e adequado, inclusive aconselhável quando o sentimento de raiva nos consome por mais tempo do que deveria.

Por fim, ao concluir a história de Goethe, Freud (1917) comenta que se pudesse interpretar e adicionar comentários para Goethe, ele provavelmente diria que foi por causa da morte do irmão; que ele poderia ter todo o amor de sua mãe e se tornar o homem bem-sucedido que foi, pois com a concorrência eliminada, ele receberia todo o amor de que precisava para se sentir autoconfiante. Talvez poderíamos pensar que o amor que os meninos recebem de suas mães seja o que, em partes, os faça serem bem-sucedidos na vida adulta, enquanto as meninas ainda enfrentam o desafio de conquistarem, por si sós, o empoderamento e a independência. Esta é uma questão para refletirmos.

TEMA 3 – UMA CRIANÇA É ESPANCADA

O artigo “Uma criança é espancada” (1919) resgata um pouco do que já vimos nos textos sobre os Três ensaios, apresentados anteriormente, assim como em O homem dos lobos (1918 [1914]). O texto apresenta uma análise clínica detalhada de um tipo de perversão e os processos envolvidos no recalque, sobre o qual Freud também trata em outros textos, como “Recalque” e “O inconsciente”. Para Freud, muitas pessoas que iniciam o tratamento para neurose obsessiva e histeria trazem, em algum momento, o relato de recordações fantasiosas relacionadas ao espancamento quando crianças. É importante enfatizar aqui que estamos tratando de fantasias, algo da ordem do imaginário, e embora muitas crianças da época de Freud tivessem testemunhado o espancamento em suas escolas, a fantasia de espancamento surge bem antes disso. Para o autor, desde cedo as crianças competiam em suas escolas para acessar livros de ficção e contos que contivessem situações nas quais as crianças eram malcomportadas e, por essa razão, recebiam como castigo espancamento e maus-tratos. Imaginar essas cenas muitas vezes trazia uma mistura de sensações, com prazer e desagrado surgindo ao mesmo tempo. Nas escolas, o fato de as crianças verem os espancamentos novamente suscitava nelas a mesma sensação de repugnância e gozo; em uma pequena parcela dessas crianças, surgia exclusivamente o gozo ou a repugnância. Aliás, até hoje é comum, nas escolas, as crianças se reunirem ao presenciarem uma briga ou alguma criança apanhar de outra(s). Apesar de muitas alegarem que sentem medo de intervir no momento de violência, quando observamos mais atentamente o comportamento dessas crianças, percebemos um certo prazer nelas em ver a dor, associado ao asco por aquela situação – o ver e não ver, sadismo e masoquismo.

Muitos dos relatos de espancamento dos pacientes de Freud provinham de pacientes que nunca tinham sido espancados, ou sequer sofrido alguma violência na escola, o que não os impedia de imaginar a cena de espancamento. Freud (1919, p. 197) pergunta:

Quem é a criança que estava sendo espancada? A que estava criando a fantasia, ou uma outra? Era sempre a mesma criança, ou às vezes era uma diferente? Quem estava batendo na criança? Uma pessoa adulta? Se era, quem? Ou a criança imaginava-se a si mesma batendo em outra? Nada do que foi apurado pôde esclarecer todas essas perguntas; apenas a resposta hesitante: “Nada mais sei sobre isto: estão espancando uma criança”.

Então, Freud (1919) se depara com o seguinte desafio: uma criança é espancada, no sonho de seus pacientes, mas não há maiores informações sobre isso. O sonho não pode ser sádico, pois para isso o agressor deveria ser o próprio paciente. Provavelmente, um adulto está batendo na criança, então concluímos que possivelmente seja o pai. Então, o pai está batendo na criança. Se pensarmos que a fantasia sofre adaptações, poderíamos dizer que há várias respostas para essa questão: primeiro, o pai poderia, de fato, estar batendo na própria criança, como um desejo masoquista. Como o nome do pai não é mencionado, poderíamos pensar que esse adulto que bate também pode ser um professor. Se a criança estiver assistindo ao espancamento, pode-se supor uma espécie de satisfação masturbatória no ato de olhar, uma excitação sexual que se conecta ao ver meninos sendo espancados.

Contudo, se a recordação é tão antiga que os pacientes sequer recordam exatamente da cena, podemos pensar que a cena também remonta a um complexo parental, conectado ao desejo de se ligar à mãe e à punição por esse desejo. É possível ainda associá-lo à chegada de um irmão e o desejo de ver o pai batendo nesse irmão, o que reconheceria inconscientemente a exclusividade do amor do pai pela criança que assiste a outra apanhar. A criança, desde pequena, aprende que apanhar significa perder o amor do outro e ser humilhada. Assim, imaginar um rival apanhando ajuda a trazer prazer e conforto, na medida que se apresenta como uma forma de “compensação” por não ser possível que essa criança se reproduza com seu pai ou com sua mãe.

A perversão, aqui representada pelo sadomasoquismo, se mostra então não mais como um fato isolado na vida do indivíduo, ou como um transtorno ao lado das neuroses e psicoses, mas como um fator constitutivo no desenvolvimento psicossexual infantil, do mesmo modo como as zonas erógenas, que posteriormente darão as bases para a formação do psiquismo neurótico. A perversão leva a criança a uma relação com o objeto incestuoso de amor, ligando a cena da criança sendo espancada como também sendo uma fantasia primitiva, ao lado da fantasia da cena primária, ou seja, a cena de sexo entre os pais. A perversão, no desenvolvimento saudável, dá lugar à moral e ao desenvolvimento sexual genital das crianças. Quando essa perversão se dá de modo anormal, ela cria bases para que, no futuro, caso o indivíduo não consiga direcionar sua libido para as zonas genitais e estabelecer uma relação de amor objetal, essas tentativas são abandonadas e a psique retorna para o modelo pervertido infantil e lá permanece para o resto da vida.

Assim, o espancamento de uma criança envolve uma nova experiência no Complexo de Édipo, que leva a criança a recalcar a lembrança de forma que o que resta é: “uma criança é espancada”. O recalque, aqui, faz parte da operação na qual o ego mantém no inconsciente representações (pensamentos, imagens, sons) ligadas a uma pulsão que, se satisfeitas, poderiam gerar prazer sob um aspecto e desprazer intenso em outro (Laplanche; Pontalis, 2001). Assim, o recalque é um processo de defesa, ou a base para a constituição dos mecanismos de defesa.

TEMA 4 – ASSOCIAÇÕES DE UMA CRIANÇA DE 4 ANOS DE IDADE

Trata-se de uma carta de 1920 que Freud recebeu de uma mãe americana, com informações muito importantes a respeito do desenvolvimento infantil. Ela conta que sua filha de 4 anos estava ouvindo uma conversa entre sua mãe e uma prima, e esta prima contou que iria se casar em breve. A criança então comentou: “Se Emily se casar, vai ter um bebê” (Freud, 1920, 281). A mãe ficou muito surpresa e perguntou à sua filha como ela sabia disso, ao que a menina respondeu que quando alguém se casava, logo vinha um bebê. A mãe, ainda incrédula, perguntou como a criança poderia saber algo como aquilo, e a menina continuou. Disse que, na verdade, ela sabia uma porção de coisas, como o fato de que as árvores nasciam do chão. A mãe achou estranha a associação, e ficou novamente surpresa que a menina já tivesse esse tipo de informação. A menina então concluiu que sabia que Deus tinha criado o mundo. A mãe não acreditou, e concluíram que provavelmente, dito tudo isso, a menina já sabia que os bebês nasciam de suas mães, fazendo associação entre as mães e a mãe-Terra. Ao dizer que sabia que Deus tinha criado o mundo (Father, em inglês, que corresponde a Deus e à palavra “pai”), estava também fazendo associação ao fato de que sabia que o pai dela tinha criado os filhos e dado a possibilidade à mãe de engravidar, assim como Deus criou as bases para que a mãe-natureza criasse o que temos no mundo.

Para Freud, esse relato mostrou que as crianças, mesmo quando não recebem as informações de seus pais a respeito das questões sexuais humanas, investigam e chegam às próprias conclusões, que depois são verbalizadas tão corretamente que poderíamos acreditar que alguém lhes explicou como realmente se dá a origem dos bebês. Para quem tem mais de um filho, percebe como é comum a criança mais velha querer saber como a mãe ficou grávida, por onde a criança irá sair, quanto tempo o bebê ficará dentro da mãe, se poderá retornar depois para dentro da mãe, se será possível escolher entre um irmão ou uma irmã, e como serão seus gostos. Depois, as crianças compartilham no ambiente escolar todos esses conhecimentos e experiências e, muitas vezes, cabe às professoras mediar as conversas e esclarecer todas essas dúvidas, além de muitas outras que, às vezes, as crianças sequer levam a seus pais.

TEMA 5 – O MATERIAL ORIUNDO DOS MITOS E CONTOS DE FADA

Sabemos como os contos de fada influenciam (poderíamos até dizer que moldam) o pensamento infantil. Tanto que para aqueles que acompanham filmes da Disney como Frozen Encanto, sabemos o quanto as figuras das princesas fazem parte do imaginário infantil feminino. Da mesma forma, ao humanizarem personagens heroicos como os da Marvel, cria-se nos meninos e meninas protótipos do que eles mesmos gostariam de ser quando adultos: a Mulher Maravilha ou o Homem-Aranha. Os filmes de hoje fazem adaptações na aparência, no comportamento e nas ambições dos personagens, de modo que as crianças se identifiquem com suas histórias.

Na época freudiana, as histórias comumente traziam mensagens, como o faziam as passagens bíblicas, sobre regras e valores aprendidos oralmente. Assim, o conto da menina de sapatinhos vermelhos traz a mensagem de que a falta de cuidado da mãe, o desejo da menina de apenas usar sapatinhos vermelhos, implicou em uma alta punição para a menina; Cinderela se manteve boa, e por isso foi recompensada pela fada com uma oportunidade para conhecer o príncipe; e, Elza compreendeu a importância do amor para controlar seus próprios impulsos. Da mesma forma, contos como a história de Jonas e a baleia, na qual Jonas foi punido por Deus até cumprir sua obrigação de advertir uma cidade que agia fora dos princípios divinos, os egípcios foram punidos por não aceitarem libertar os judeus da escravidão, e Jó, ao final, foi recompensado por Deus por ter mantido sua fidelidade, embora tivesse perdido seu dinheiro e sua família enquanto era testado por Deus e pelo Diabo.

Os contos, muito mais do que se proporem a contar uma história que de fato aconteceu, permanecem no imaginário social porque passam uma mensagem a respeito das crenças e valores de uma dada cultura. Na história de uma das pacientes, Freud (1913) conta como ela se via em um quarto de madeira, com apenas uma escada íngreme. No alto da escada ela podia ver um homenzinho pequeno e calvo, que dançava e se portava de maneira estranha. Depois, a paciente se deu conta que estava descrevendo Rumpelstizchen, um dos contos dos irmãos Grimm (Freud, 1913, p. 305).

O segundo sonho apresentado aqui é o do “homem dos lobos”, que Freud (1913) reconta nesse texto. De forma resumida, ele traz o relato do rapaz que, quando criança, sonhara que a janela de seu quarto se abrira e, do lado de fora e em cima de uma grande nogueira, estavam seis ou sete lobos brancos sentados, olhando para ele. Os lobos brancos se pareciam com cães pastores ou raposas, tinham caudas grandes e orelhas empinadas, como se estivessem observando algo. Aterrorizado, com medo de ser devorado pelos lobos, o menino gritou e acordou. Aqui, a única ação do sonho foi a janela se abrir, pois de resto tudo estava imóvel. Quando se lembra do que poderia estar associado, o paciente se recorda de um livro de contos de fadas de sua irmã. Ela sabia que o menino tinha medo da imagem, por isso ela sempre pegava o livro e mostrava a imagem ao irmão, até que ele chorasse para ela parar. Pela descrição que o rapaz fizera da figura do livro, Freud acreditava que se tratava do livro de “Chapeuzinho Vermelho”. Ao tentar analisar o sonho, o paciente se lembrou de que nas vizinhanças havia ovelhas, e que o proprietário decidiu vaciná-las, porém, depois disso, muitas delas morreram. Sobre os lobos estarem na árvore, o rapaz se lembrou de uma história de seu avô na qual um lobo velho queria se vingar de um alfaiate que lhe cortara a cauda. Esse lobo levou a matilha para atacar o alfaiate que, assustado, subiu em uma árvore. O velho lobo sugeriu que os demais subissem em suas costas para pegar o rapaz e vingá-lo. Mas o alfaiate, ao reconhecer o lobo que ele havia enfrentado, gritou para que pegassem o lobo cinzento pela cauda. O velho lobo, assustado pela lembrança da perda da cauda, fugiu e os lobos desmoronaram (remontando ao ditado “Gato escaldado tem medo de água fria”). Ao interpretar o sonho, Freud conclui que o lobo é um representando paterno que remonta ao complexo de castração, e que os contos de fada serviram para a formação da fobia. Isso também ocorreu com uma paciente que relatou que seus filhos tinham medo do avô porque ele dizia que iria cortar as barrigas deles como na história da Chapeuzinho Vermelho.

NA PRÁTICA

Propomos aqui, como prática, seguir falando sobre os contos e cantigas. A história da “Cabra cabriola” tem origem portuguesa, e chegou ao Brasil entre os séculos XIX e XX. 

Títulos e temas : 1 a 5 mais Na prática e conclusão

Segundo a lenda, uma cabra de aspecto monstruoso espreita as casas em busca de crianças desobedientes e malcriadas. Isso se assemelha ao que antigamente se dizia sobre o “homem do saco”, um homem com aspecto empobrecido e cruel que levava as crianças desobedientes para fazer sabão. Muito dessa história desapareceu com o passar dos anos, quando as crianças começaram a ter medo de mendigos e a agredi-los por causa desse medo. Além disso, inúmeras histórias e lendas de bruxas contam como elas roubam as crianças desobedientes para comerem, a exemplo da história de João e Maria. A cantiga Boi-da-cara-preta também traz uma toada para assustar e intimidar crianças:

Boi, boi, boi

Boi da cara preta

Pega essa menina que tem medo de careta

Não, não, não

Não a coitadinha

Ela está chorando

E também é bonitinha (Domínio público, S.d.)

Para aqueles que já estudaram as mensagens transmitidas nas cantigas de roda, como a música “Ciranda, cirandinha”, há uma mensagem explícita sobre a fragilidade das relações amorosas e conjugais que não se constituem sobre bases sólidas (“O anel que tu me deste era vidro e se quebrou/O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou”). Há também as histórias de Esopo, como a da lebre e da tartaruga (na qual elas disputam uma corrida e a tartaruga vence porque persiste, embora a lebre fosse mais rápida), que antropomorfiza os animais (ou seja, lhes dá características humanas) para passar mensagens a respeito de como devemos nos comportar em sociedade.

Esses contos, quando retirados de seu contexto original, tornam-se desconexos e até mesmo preconceituosos, como podemos observar nas histórias de Monteiro Lobato, que foram escritas em uma época na qual não havia discussões sobre questões étnicas, ou as histórias de princesas, como a Branca de Neve e a Bela Adormecida, que, à primeira vista, parecem ser absurdas por se tratar de jovens moças que se casaram com o primeiro rapaz que conheceram. No entanto, se considerarmos que na época medieval o casamento costumava ser a única escolha e que elas não tinham recursos disponíveis, embora fossem ricas, e que sofriam de ameaças e coação, o matrimônio com o primeiro príncipe que lhes aparecia passa a ser, sem dúvida, a escolha mais inteligente para uma moça nessa situação.

FINALIZANDO

Nesta aula, abordamos como a escola e os professores desempenham um papel fundamental na construção psicossocial e psicossexual das crianças e jovens, vindo a representarem verdadeiras imagos, ou seja, substitutos das figuras parentais; a simbologia de uma recordação de infância de Goethe, e o que tal recordação nos diz sobre as fantasias e sobre recordar momentos que, embora pareçam irrelevantes, podem ser cruciais para nossa formação; a fantasia do espancamento infantil e como essa fantasia se constitui com a fantasia da cena primitiva para compor o complexo de Édipo e o complexo de castração; as associações de uma criança de 4 anos de idade, e como ela já mostra, nessa idade, que não acredita em tudo que lhe dizem, chegando a suas próprias conclusões com base na observação do ambiente.

Por fim, falamos da importância dos contos de fada, dos mitos e das cantigas como formadores sociais presentes no imaginário infantil, com base nas mensagens subjacentes a cada uma das histórias, as quais transmitem mensagens sobre o que se espera das crianças na sociedade quanto a comportamento e valores.

Esperamos que você tenha aproveitado as discussões aqui apresentadas para conhecer um pouco mais sobre as origens da psicanálise. Convidamos você a continuar acompanhando as aulas para saber mais sobre esse campo do saber tão envolvente que é a psicanálise.

REFERÊNCIAS

FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (1886-1899): livro XIII. Rio de Janeiro: Imago, 1977.

GARCIA-ROZA, L. A. Introdução à metapsicologia freudiana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. v. 1.

_____. Introdução à metapsicologia freudiana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. v. 2.

_____. Introdução à metapsicologia freudiana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. v. 3.

LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário da psicanálise. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de psicanálise. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BIRMAN, J. Freud e a interpretação psicanalítica. Rio de Janeiro: Relumé-Dumará, 1991.

MEZAN, R. Freud: a trama dos conceitos. São Paulo: Perspectiva, 1980.

Revisão de caso "Homem dos lobos" entre outros

 

CONVERSA INICIAL

Neste momento, trataremos primeiramente do caso Schreber, emblemático para a compreensão do narcisismo intermediário. Também veremos o Homem dos Lobos, conhecido como história de uma neurose infantil, e sua importância para a compreensão da metáfora paterna. Por fim, falaremos do retorno do totemismo na infância e como a questão totêmica é emblemática para a compreensão da importância do objeto sexual na constituição individual e social.

TEMA 1 – CASO SCHREBER

O caso Schreber foi, na verdade, uma análise de Freud com base em um texto intitulado Memórias de um doente dos nervos. Ou seja, Freud nunca chegou a atender esse rapaz, e toda a análise se dá em função da interpretação do livro de memórias de Daniel Paul Schreber. Como referencia Strachey, Freud faz alusão à história clínica de Schreber baseado apenas na idade do rapaz quando ele caiu enfermo e foi internado. Depois, Freud teve acesso aos relatórios médicos de Schreber enquanto este esteve internado e muitas informações confirmaram suas hipóteses iniciais a respeito da psicopatologia apresentada pelo paciente.

Aparentemente, Schreber teve uma vida saudável até o momento em que sua esposa ficou doente, com uma crise de paralisia. Duas semanas mais tarde, ele foi internado. Pelo que se compreende, esse livro de memórias teve o objetivo de apresentar uma série de contestações e argumentos jurídicos para comprovar que Schreber poderia sair do asilo no qual se encontrava.

A cronologia abaixo pretende esclarecer a sequência dos fatos:

  • 1842   Schreber nasce em Leipzig
  • 1861   Seu pai morre aos 53 anos
  • 1877   Seu irmão mais velho se suicida aos 38 anos
  • 1878   Schreber se casa
  • Aparecimento da primeira doença
  • 1884   Apresenta-se como candidato ao Reichtag, sendo que já ocupava um importante cargo judiciário, e é internado em um asilo
  • 1885   Recebe alta do asilo
  • 1886   É nomeado juiz em Leipzig
  • Aparecimento da segunda doença
  • 1893   Recebe a notícia de que será nomeado no Tribunal de Apelação, toma posse como juiz presidente e volta a ser internado
  • 1894   É transferido para outros dois asilos
  • 1900   Escreve o livro com o propósito de receber alta
  • 1902   Recebe a alta esperada
  • 1903   Publica seu livro de memórias

Schreber provinha de uma família instruída e, como podemos observar, de forma muito rápida se tornou um importante jurista. No entanto, como ele próprio relata, seus distúrbios nervosos se deram duas vezes: a primeira quando se apresentou como candidato a um importante cargo de juiz; a segunda, quando foi nomeado presidente do senado, em 1893. Houve ainda uma terceira vez, depois que ele escreveu o livro. Segundo Schreber, a doença o acometeu em função do grande fardo que ambos os cargos representavam. Assim que recebeu a primeira proposta, foi internado e diagnosticado com hipocondria. Depois da alta, conseguiu passar oito anos com a esposa, tendo como única frustração a impossibilidade de ter filhos. Ao saber de sua possível indicação para o cargo de presidente do senado, teve dois ou três sonhos de que sua doença poderia retornar. Certa manhã, prestes a acordar, teve a ideia de que, “afinal de contas, deve ser realmente muito bom ser mulher e submeter-se ao ato da cópula” (Freud, 1911, p. 24). Schreber escreve que certamente teria rejeitado a ideia se estivesse plenamente consciente.

Depois de ser nomeado presidente, teve torturantes acessos de insônia e voltou para o asilo, onde passou a ter ideias hipocondríacas, como a de que seu cérebro estava amolecendo e que morreria cedo. Depois, começou a apresentar delírios persecutórios, sensibilidade à luz e ao barulho, além de ilusões visuais e auditivas. Schreber acreditava que estava morto e em decomposição e que seu corpo vinha sendo submetido a diversos horrores em nome do sagrado. O paciente ficava tão preocupado com esses pensamentos e ilusões que permanecia paralisado por horas em estupor alucinatório e desejava estar morto para se livrar daquela condição. Por isso, pedia que lhe ministrassem cianureto, que já estava prescrito para ele. Essas ideias delirantes foram gradativamente assumindo um caráter místico e religioso, como se estivesse em comunicação direta com Deus, fosse um joguete de demônios e possivelmente já estivesse vivendo em outro mundo. Após ser transferido para outro asilo, a psicose aguda com caráter alucinatório se transformou na estrutura delirante da paranoia.

Quando avaliado, Schreber mostrava que, apesar da paranoia, sua inteligência permanecia intacta, calma e sua memória se mantinha excelente em diversos campos além do jurídico. Em um relatório de 1900, o médico afirmou que, embora os assuntos relacionados a seus delírios não pudessem ser tratados com o paciente, em todos os outros aspectos o senhor presidente se mostrava perfeitamente saudável: convivia com outras pessoas em perfeita harmonia, gentileza, tato e decoro; sabia debater sobre diversos tópicos como política, arte, literatura; mostrava ótimo discernimento e julgamento sobre tópicos cotidianos; expunha um julgamento ético diferenciado e em momento algum introduzia de forma inadequada tópicos relacionados a seus transtornos.

Nesse período, Schreber decidiu escrever seu livro de memórias com o objetivo de ser readmitido no trabalho, pois, em sua argumentação, seus delírios e alucinações não interferiam em nada em sua capacidade cognitiva para executar sua função. Com isso, ele conseguiu restaurar seus direitos civis. A decisão que devolveu sua liberdade resumia o sistema delirante de Schreber da seguinte forma: “Acreditava que tinha a missão de redimir o mundo e restituir-lhe o estado perdido de beatitude” (Freud, 1911, p. 27). Ele argumentou que fora convocado pelo próprio Deus para essa missão. Deus, ao se sentir atraído por seus nervos, lhe enviara mensagens que nenhum outro ser humano haveria recebido antes.

A parte mais essencial de sua missão é que ele deveria se transformar em mulher. Não que Schreber desejasse fazê-lo, mas ele deveria se tornar uma por uma missão divina, mesmo que prezasse por sua masculinidade e repudiasse a ideia em um primeiro momento. Ele acreditava que tinha sido escolhido por ser o humano mais notável que já estivera na Terra, pois vivera diversos desafios, como a destruição de seus órgãos internos, que se reconstituíram, algo impossível a outro ser humano. Ou seja, Schreber interpretou que Deus seria uma figura que se cativara por ele e, portanto, tentava criar uma conexão, por meio de raios divinos que se instalaram em cada parte do corpo de Schreber e restauraram as partes destruídas para que ele pudesse alcançar a imortalidade e se tornar um Redentor. Essa conexão se confirmava por alguns fenômenos como árvores que possuíam antigas almas humanas e pássaros falantes, a interrupção de frases, a dificuldade de defecação e outros fenômenos em seu corpo, como o crescimento de seios, a que ele chamava de emasculação. Ao mencionar a emasculação, Schreber afirmava que Deus desejava se apoderar de seu corpo e tomá-lo como o de uma prostituta, uma rameira.

TEMA 2 – DISCUSSÃO DO CASO SCHREBER

O tema da paranoia já fora discutido nos textos freudianos em 1895, no Rascunho H. Nessa carta, Freud (1895) lança mão de sua hipótese e elenca dois pontos principais na análise da paranoia: 1) é uma neurose de defesa; 2) seu mecanismo principal é a projeção, provocando assim os delírios e as alucinações (diferente da histeria e da neurose obsessiva). Em outra carta, o Rascunho K, Freud (1895) segue em sua análise sobre a paranoia e amplia a discussão ao introduzir a hipótese de que a paranoia acarreta o retorno ao autoerotismo primitivo. Ao apresentar um estudo sobre a paranoia feminina, em 1906, Freud associa esse transtorno a um homossexualismo[1] passivo primitivo. Strachey também comenta que Freud apresentou outros artigos intitulados Um caso de paranoia que contraria a teoria psicanalítica da doença, em 1915, a Seção B de Alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranoia e no homossexualismo, em 1922, e Uma neurose demonológica do século XVII, em 1923, porém nenhum deles será tratado neste texto porque apenas trazem a confirmação das constatações feitas no artigo do caso Schreber.

Mas a grande relevância desse estudo está além da análise da paranoia em si, pois ele traz também uma discussão sobre a construção metapsicológica de Freud a respeito do desenvolvimento psicossexual infantil, como a questão do narcisismo. Nesse sentido, Freud (1911) apresenta, nos Três Ensaios, um processo que seria intermediário entre o autoerotismo e o amor objetal: o narcisismo. No narcisismo, o individuo reúne energias para conseguir um objeto de amor, começando por si próprio, e somente depois migra para o amor por um objeto. Uma vez que o narcisismo implica o homossexualismo, a paranoia de Schreber apenas confirma que o retorno ao self resultaria em uma relação narcísica e uma suscetibilidade a essa fase de seu desenvolvimento.

Além disso, Freud (1911) traz o exame de como se formam os sintomas, algo que ele já fizera em estudos anteriores. Assim, o processo de recalque acontece em três fases: o estabelecimento de um ponto de fixação, o recalque propriamente dito e o retorno do recalcado ao ponto de fixação. O caso é nomeado como psicose associada a esquizofrenia: em ambas há uma clivagem do ego e, segundo Freud (1911), a principal vantagem dos delírios é que, diferentemente das neuroses ‒ que escondem a origem dos traumas sob a forma de sintomas ‒, nas psicoses o delírio apresenta de forma distorcida e explícita a causa dos sintomas. Além disso, Freud interpreta esse caso dentro do viés do narcisismo, no sentido de que a influência homossexual dos médicos que cuidaram de Schreber pode ter favorecido a criação de fantasias, cuja origem primária seria a sedução pelo pai. A defesa a essa ligação homossexual – o complexo paterno – se deu pelos delírios e pela negação deles.

TEMA 3 – O HOMEM DOS LOBOS

Intitulado como uma neurose infantil, o Homem dos Lobos se trata de um dos mais importantes casos de Freud, muito embora ele tenha parado de atender o paciente. Em 1910, depois de passar pelo psiquiatra Kraepelin (como o fez também Schreber), um jovem russo muito rico procurou Freud para lhe ajudar com seus sintomas. Após pegar gonorreia aos 18 anos, ficou completamente incapacitado e dependente de outras pessoas. Os 10 anos antes do início da doença foram saudáveis, mas na infância (em torno dos 4 anos) o rapaz teve uma fobia de animal que depois se transformou em uma neurose obsessiva de cunho religioso. Como ele desenvolvera uma característica de “entrincheiramento” por trás de uma amável apatia, Freud precisou estabelecer um vínculo com o paciente antes de dar início ao tratamento. Depois de algum tempo, Freud comunicou ao rapaz que o atenderia por determinado tempo e, independentemente de ter ou não uma melhora, a terapia seria encerrada. Logo que Freud informou sobre o prazo de término, houve uma aparente evolução e as sessões tiveram início.

Em seu histórico familiar, consta que os pais se casaram jovens, sua mãe passou a ter dores abdominais e o pai entrou em depressão, o que o fez se ausentar de casa. O rapaz tinha uma irmã e uma babá, uma mulher simples que cuidava dele como se fosse seu próprio filho. Em dado momento, o menino sentiu um terrível medo de uma borboleta, o que lhe fez sair correndo, assustado. Passou a ter medo também de besouros e lagartos, embora também gostasse de matá-los e cortá-los em pedaços. Essa mesma ambiguidade ocorria com cavalos, pois o menino gostava dos equinos, mas tinha medo quando eles batiam as patas no chão. Isso se evidenciava até na sua relação com o sagrado, pois ora rezava, fazia o sinal da cruz diversas vezes e beijava os santos, ora recordava blasfêmias e pensamentos que, para ele, eram inspiração do diabo.

Em recordação da sua infância, desenvolvendo assim as fantasias primárias, ele dizia se lembrar de quando sua irmã sugeriu que eles mostrassem seus traseiros; em outro momento, ela teria segurado o pênis dele e dito estar fazendo o mesmo que a babá fazia com o jardineiro. Apaixonou-se pela irmã, que rejeitou a relação incestuosa. Passou, então, a se envolver com criadas. A irmã, que se destacara muito intelectualmente, viajou. Depois de experiências que davam a entender que ela estava entrando em um processo de demência precoce, envenenou-se e morreu.

O paciente demonstrava falta de ânimo, depressão, ficara internado em sanatórios e fora diagnosticado com insanidade maníaco-depressiva. Quando melhorou, voltou para a Rússia, mas com a Revolução de 1917 ele perdeu tudo, adoeceu e voltou para Berlim. Surgiu, então, o relato do sonho que deu o título a essa história:

Sonhei que era noite e que eu estava deitado na cama (Meu leito tem o pé da cama voltado para a janela: em frente da janela havia uma fileira de velhas nogueiras. Sei que era inverno quando tive o sonho, e de noite). De repente, a janela abriu-se sozinha e fiquei aterrorizado ao ver que alguns lobos brancos estavam sentados na grande nogueira em frente da janela. Havia seis ou sete deles. Os lobos eram muito brancos e pareciam-se mais com raposas ou cães pastores, pois tinham caudas grandes, como as raposas, e orelhas empinadas, como cães quando prestam atenção a algo. Com grande terror, evidentemente de ser comido por lobos, gritei e acordei. (Freud, 1914, p. 41)

No momento, o sonho parecia muito real e a babá precisou acalmá-lo até que pudesse voltar a dormir. O desenho a seguir é a representação do Homem dos Lobos, no livro de Freud (1914, p. 42):

Crédito: Jefferson Schnaider.

O paciente se perguntou por que tivera essa ideia: se tinha sido motivada pela história de Chapeuzinho Vermelho, por causa das ovelhas que viviam nas vizinhanças; por uma história contada por seu avô; ou pela história do lobo e dos sete cabritinhos. Em determinado momento, o rapaz associou a árvore com lobos à árvore de Natal, na qual os lobos ocupavam o lugar dos presentes.

Depois, ao saber que teria um novo tutor, imaginou-o na figura de um leão que poderia devorá-lo. Na adolescência, reviveu o sonho dos lobos com um professor que o censurara de sobrenome Wolf (“lobo”, em inglês e alemão).

TEMA 4 – DISCUSSÃO DO CASO DOS LOBOS

Em diversos textos posteriores, Freud (1914) faz menções a esse caso clínico, trazendo, por exemplo, que o psicanalista deveria publicar sonhos ocorridos na infância de seus pacientes, principalmente daqueles que foram testemunhas de um ato sexual. O caso do Homem dos Lobos é apresentado no texto A ocorrência, em sonhos, do material oriundo dos contos de fada”, de 1913; depois, em Fausse reconnaissance [‘déjà raconté’] no tratamento psicanalítico e em Recordar, repetir e elaborar, ambos de 1914; no artigo metapsicológico Repressão, de 1915; em Inibições, sintomas e ansiedade, de 1926, em que o autor inclusive compara a fobia de Hans por cavalos com a fobia do jovem russo por lobos; e em Análise terminável e interminável, em 1937. Algumas contribuições desse texto dizem respeito à primitiva organização oral da libido, incluindo o comportamento de incorporação e de identificação para a constituição de um ideal do ego, além do sentimento de culpa e a disposição à depressão. O ideal do ego, em um primeiro momento na constituição da segunda tópica, é apresentado como uma espécie de sinônimo do superego. No entanto, no texto do narcisismo Freud introduz uma diferenciação para explicar que o ideal do ego é uma instância narcísica, resultante da convergência entre o narcisismo e a identificação paterna, e posteriormente da convergência entre os substitutos dos ideais internos e os ideais coletivos, associados a um verdadeiro delírio de grandeza.

Freud retoma novamente os impulsos femininos primários e sua tese sobre a ocorrência da bissexualidade em ambos os sexos, como um Complexo de Édipo “invertido”. Na verdade, o que ele apresenta nesse texto é a ideia do recalque ocorrendo em diversos momentos (trazendo aqui a noção da temporalidade psíquica como distinta da temporalidade cronológica), com a cena originária como o ponto inicial da formação do trauma, juntamente com as fantasias originárias que remontam à própria história. Essa teoria da sedução, ou seja, a fantasia do coito constitui a base do amor edipiano: quando não há a transferência do amor para o objeto, esse amor retorna sob a forma de autoerotismo e reinvestimento no ego. Posteriormente, esse investimento é projetado para fora, criando assim as ilusões. O momento em que o sintoma deixa de ser uma fobia e uma neurose obsessiva e passa a apresentar delírios e alucinações, isso acompanha o próprio desenvolvimento do indivíduo, seu amadurecimento psicossexual, por isso Freud vai revendo o diagnóstico à medida que acompanha o Homem dos Lobos.

Nesse caso, ao tomar conhecimento da história dos lobos na árvore, Freud conclui que possivelmente esse sonho tenha relação com seu pai, que o organiza e o ameaça e que pode copular com ele por trás, como fizera com a mãe, com uma ameaça de castração: “uma ocorrência real – datando de um período muito prematuro – olhar – imobilidade – problemas sexuais – castração – o pai – algo terrível” (Freud, 1914, p. 46).

TEMA 5 – O RETORNO DO TOTEMISMO NA INFÂNCIA

Esse tópico faz parte do item 4 do texto Totem e tabu, de 1914. De modo geral, aplica-se ao contexto porque em todas as sociedades há regras e proibições, como é o caso do tabu do incesto. Além disso, o surgimento do totem se relaciona com o modelo do sagrado, que em muitas sociedades está diretamente associado à religião, estabelecendo costumes e regras que as tornam mais avançadas do que os agrupamentos animais. A maioria das pessoas se depara com essas regras já na infância e aprende, nas aulas que recebem de seus pais, familiares ou líderes religiosos, como se portar em sociedade. Assim, esse tópico visa explicitamente tratar não do desenvolvimento psicossexual do ponto de vista do amadurecimento biológico, mas da construção de valores a que as crianças são submetidas desde que nascem.

O modelo do totemismo, segundo Freud (1914), envolve a crença de que há algo de supersticioso em uma classe de objetos eleitos para representarem crenças e costumes e em uma figura (ou algumas figuras) que estabelece com o homem um vínculo mutuamente benéfico (pois o totem não mata o ser humano e este, em troca, reconhece e enaltece a grandeza desse totem). Além disso, essa relação é íntima e inteiramente especial. Freud (1914) traz seu exemplo de totemismo para a religião católica, mas é possível derivá-lo, em diferentes graus, para outras religiões além da cristã, como a judaica, a muçulmana e a budista. Mesmo as religiões politeístas indígenas e africanas e a antiga Grécia possuíam modelos de deuses fortes, poderosos, mas benevolentes com os homens enquanto se mantivessem seguidores e fiéis.

A necessidade de criação de tabus, conforme explicado no texto, se dá porque algumas condições, como comer e beber ou não colocar a mão no fogo, não precisam ser explicadas para as pessoas. O comportamento inicial sobre uma fruta é comê-la, assim como a reação inicial ao sentir o calor do fogo queimando é retirar a mão. No entanto, o incesto não faz parte do modo natural luta-fuga-acasalamento. Pelo contrário, é bastante comum que o abuso sexual de crianças (meninos e meninas) se dê principalmente pelo pai, depois por outros membros da família e por fim por estranhos e pessoas distantes. Quando uma pessoa como essas é presa, a “lei dos presídios” então submete o estuprador, pedófilo e incestuoso aos mais variados graus de degradação e violência, para deixar claro que, embora a maioria daquelas pessoas esteja fora da lei, o incesto e o abuso de vulneráveis precisam ser mantidos como comportamentos inaceitáveis e passíveis de punição com violência e morte.

No desenvolvimento psicossexual infantil, vemos com frequência as crianças se sentirem mais semelhantes aos animais que aos adultos mais velhos. Isso porque as crianças ainda não apresentam sinais de arrogância ou escrúpulo (de modo geral), são desinibidas e curiosas. Quando a criança começa a desenvolver sua concepção de mundo e absorver as regras, ela se afasta do universo animal, podendo desenvolver fobias de animais que até então despertavam interesse e simpatia. Os contos infantis auxiliam no surgimento dessas fobias, como pudemos observar anteriormente no caso do Homem dos Lobos, e é esse medo que se combina com as fantasias originárias para o complexo de castração. Em um exemplo apresentado no texto, Freud comenta que um menino, Arpad, tentou urinar no galinheiro e uma galinha tentou bicar seu pênis. Um ano depois, quando o menino retornou ao galinheiro, sentiu-se transformado em uma galinha, cacarejando e interessado apenas no próprio galinheiro. Precisou de tempo até recuperar a fala, mas seguiu interessado apenas em assuntos sobre galinhas e apresentava um comportamento ambivalente em relação a elas: desejava matá-las todas, dançava com prazer em volta dos corpos representados por brinquedos, mas depois se abaixava e as beijava, em uma demonstração de intenso afeto. Portanto, a relação ambígua com a galinha se deu em reação ao medo de castração, ao medo de que a galinha comesse o pênis do menino.

A história da relação totêmica remonta à ideia da horda primeva, na qual antigamente o homem mais forte possuía todas as mulheres. Uma vez que outro homem se tornasse o mais forte, ele rapidamente matava o anterior e assumia a posição de líder e responsável por todas as mulheres. A criação do totem se deu a partir do momento em que todos os filhos se juntaram e mataram seu pai, tomaram-lhe juntos o lugar de líderes e decidiram que a regra mudaria. Na sequência, surgiu o tabu do incesto e a figura do totem, simbolizando a figura do pai morto que não deve ser esquecido como uma referência a um tempo que não deve, sob hipótese nenhuma, retornar.

Crédito: Tomacco/Shutterstock.

Com o passar do tempo, a força deu lugar à inteligência, estabelecendo aqui uma analogia entre os neuróticos e os primitivos: os primeiros são, acima de tudo, inibidos em suas ações e seu pensamento é substituto constante do ato; já os homens primitivos, de pouco ou nenhum conhecimento, são desinibidos e seu pensamento se transforma rapidamente em ação. “No princípio foi ato”, diz Freud (1914), e com essa frase concluímos que a formação da neurose ainda segue como um processo mais adaptado que a resposta comportamental ao desejo, a falta de reflexão e o bloqueio que são tão prezados e cultivados nas sociedades modernas.

NA PRÁTICA

Propomos uma análise do filme Uma mente brilhante. Lançado em 2001, conta a biografia de John Nash, desde seu ingresso na universidade. De início, Nash decide se isolar dos amigos e colegas em busca de uma ideia original. Após um companheiro sugerir que ele o fizesse fora do quarto, o cientista vai então buscar respostas no movimento dos pombos de um parque, de uma equipe de futebol e no roubo de uma carteira. Depois, durante uma conversa em um bar, Nash encontra a inspiração de que precisava, iniciando o que mais tarde ele chamou de Teoria dos Jogos. O reconhecimento de seu trabalho só ocorre depois que ele consegue ajudar o Pentágono a decifrar códigos russos. Torna-se então professor e conhece uma aluna com quem se casa e vem a ter um filho. Depois de a família ser perseguida por estranhos, Nash começa a desenvolver paranoia e entra em um quadro esquizofrênico. No fim do filme, Nash conquista o Nobel em Economia e aprende a lidar com seu transtorno.

Nem sempre é possível que o paciente conquiste o mesmo resultado de Nash, pois o prognóstico depende da idade quando o transtorno surgiu e das características associadas. No livro Memórias de uma esquizofrênica, de Sechehaye (1950), a personagem apresenta o primeiro sintoma muito mais cedo que Nash, o que representa uma dificuldade extra no sentido de compreender o desafio entre ilusão e realidade. É bem verdade que as crianças, até determinada idade, têm dificuldade em distinguir sonho e realidade e não é incomum ouvir relatos de crianças que dizem ter brincado por horas quando, na verdade, estavam apenas dormindo. Além disso, ocorre também a existência de amigos imaginários e personagens fantásticos que as crianças garantem ver e interagir e por isso a dificuldade em se trabalhar o “ponto de virada”, quando deixamos de confundir ilusão e fato e passamos a compreender o entorno ou nos deixar levar por delírios e alucinações.

FINALIZANDO

Nesta etapa, trouxemos inicialmente o caso Schreber, uma história baseada no livro de memórias do próprio paciente e que trouxe uma mudança significativa na metapsicologia freudiana ao introduzir o conceito de narcisismo, uma etapa que ficaria entre o autoerotismo e o amor objetal. Depois, falamos do Homem dos Lobos, um caso que representou uma grande dificuldade diagnóstica para Freud, com seu complexo de castração associado a delírios com lobos e com a cena primeva, além da presença particular de lendas e mitos nos contos de fada infantis, nos sonhos e nos temores. Por fim, trouxemos o texto sobre o totemismo na infância.

Esperamos que tenham aproveitado as discussões apresentadas aqui para conhecer um pouco mais das origens da psicanálise e convidamos a todos a continuar acompanhando o conteúdo para saber mais sobre esse campo do saber tão envolvente que é a psicanálise.

Leitura complementar

BIRMAN, J. Freud e a interpretação psicanalítica. Rio de Janeiro: Relumé-Dumará, 1991.

MEZAN, R. Freud: a trama dos conceitos. São Paulo: Perspectiva, 1980.

REFERÊNCIAS

FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (1886-1899) – livro I, XII, XIII e XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1977.

GARCIA-ROZA, L.A. Introdução à metapsicologia freudiana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. v1-3.

LAPLANCHE, J & PONTALIS, J.B. Vocabulário da psicanálise. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de psicanálise. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

SECHEHAYE, M. A. Memórias de uma esquizofrênica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1950.


[1] O termo está sendo utilizado com o sufixo "ismo" conforme o uso do próprio autor em seus textos, pois a homossexualidade foi considerada, até a década de 1980, como uma doença (ou seja, posterior à publicação dos "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade") sendo caracterizada por Freud como perversão.

Não se importar com a opinião alheia

  Não se importar com a opinião alheia é uma habilidade psicológica que pode ser treinada. Ela envolve três grandes áreas: autoestima, auto...