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segunda-feira, 17 de julho de 2023

TEORIA PSICOSSEXUAL DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL - aula 6

  

TEORIA PSICOSSEXUAL DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

AULA 6

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Profª Raquel Berg

Bacharelado em psicanálise  - uninter

resumo material abordado unidade 6 

CONVERSA INICIAL

Olá! Seja bem-vindo a mais uma etapa da nossa jornada do conhecimento sobre teoria psicossexual do desenvolvimento infantil. Nesta aula, falaremos a respeito de ego e id e como eles foram fundamentais para compreendermos como se dá a constituição psíquica e sexual. Nesse sentido, trataremos um pouco acerca das diferenças da primeira e da segunda tópicas dentro do contexto do ego e do id, além dos conceitos de id, ego e superego.

Na sequência de nossa reflexão, faremos uma apresentação de como ocorre o desenvolvimento humano do ponto de vista biológico, os três organizadores psíquicos de Spitz dentro desse contexto do desenvolvimento no primeiro ano de vida. Por fim, abordaremos brevemente os conceitos kleinianos e lacanianos sobre a formação psicossexual infantil, como se conectam com a teoria freudiana e como estendem a visão a respeito do desenvolvimento das crianças e o papel da psicanálise na análise do sintoma infantil.

TEMA 1 – O EGO

O texto do ego e id foi um dos grandes marcos da teoria freudiana. Até então, o conceito de inconsciente vinha como um pilar da metapsicologia psicanalítica juntamente com os de subconsciente e consciente, e essa tríade compunha a constituição do aparelho psíquico segundo a primeira tópica freudiana. O inconsciente era descrito como a forma pela qual determinadas informações eram apreendidas e ficavam “escondidas” na mente, só podendo ser resgatadas por hipnose ou no relato dos sonhos. A necessidade de se escrever esse texto e, posteriormente, lançar a segunda tópica, se deu pelo fato de que no ego também há um inconsciente, do mesmo modo como no inconsciente residem uma parte do superego e do ego, assim como o id.

Posto que essa segunda tríade compartilha de mais de um lugar, Freud decide criar o segundo modelo e mantém, de alguma maneira, ainda a existência do primeiro. Vale retomar que o primeiro foi constituído a partir do texto de Freud sobre o “Projeto para uma Psicologia Científica” de 1895; nele, Freud (1977, v. XIX) “importa” o conhecimento que já possui em neuroanatomia, as descobertas de Wundt, Golgi, Ramon e Cajal, e com isso cria sua hipótese de como os pensamentos e as emoções se constituem para além da questão motora, do “arco reflexo”. Nesse texto de 1895, Freud (1977, v. XIX) também projeta como poderia funcionar o recebimento de novas informações e o modo pelo qual estas se inserem no conhecimento já adquirido, e como, a partir disso, se formam os sintomas “a partir de uma força recalcada que se esforça em abrir caminho até a atividade, mas mantida sob controle por uma força repressora e, estruturalmente, um ‘inconsciente’ a que se opõe um ‘ego’” (Freud, 1977, v. XIX, p. 17).

No entanto, se analisarmos mais a fundo esse trecho do texto “Interpretação dos Sonhos” de 1900 (1977, v. XIX), observamos que o autor tenta seguir com o primeiro modelo, mas algumas inconsistências começam a surgir, como a contraposição entre inconsciente e ego, que até então não eram instâncias do mesmo conjunto.

Com isso, o termo inconsciente passa a ter dois sentidos: um mais descritivo, que confere uma qualidade específica a um estado mental; e outro, dinâmico, que atribui uma função a esse estado mental. Depois, essas qualidades atribuídas a conceitos que existiram desde o início da psicanálise e permaneceram até os últimos textos terão pontos de vista tópicos e dinâmicos. Nesse sentido, Strachey (Freud, 1977, v. XIX, p. 17) comenta, em seu texto introdutório do “Ego e o Id”:

Desde o início, porém, uma outra noção, mais obscura, já se achava envolvida (como era claramente demonstrado pelos diagramas pictóricos): a noção de ‘sistemas’ da mente. Isto implicava uma divisão topográfica ou estrutural da mente baseada em algo mais que função, uma divisão em partes às quais era possível atribuir em certo número de características e métodos de operação diferenciantes [sic].

Assim, em 1900 já começava a se esboçar algo que depois viria a se tornar a segunda tópica, mas somente mais tarde Freud efetivamente pôde dar estrutura a essa segunda proposta de aparelho psíquico. O texto “Além do princípio do prazer”, de 1920, foi o marco da transição entre as tópicas, quando a noção do inconsciente pareceu ser insuficiente para tratar dos conceitos de ego, superego e id. Com a transição, Freud foi capaz de apresentar novos avanços em sua teoria. O id passa a ter dois empregos principais: um, com o mesmo significado de inconsciente, pois se trata de uma parte da mente; e outro, como uma instância diferenciada dos demais e que representa o indivíduo em sua totalidade.

Já o ego aparece com duas construções: uma antes (evocando as pulsões do ego de recalque sexual e de autoconservação) e outra depois do conceito de narcisismo (pulsões de vida e de morte). O ego passa a corresponder a algo que está entre as instâncias inconscientes e pré-conscientes (Ics-Pcs) e inclui atividades, como censura, teste de realidade (se o que estamos vendo é real e compartilhado com outros) etc., e autocrítica. Assim:

Pode haver uma ‘instância psíquica especial’ cuja tarefa é vigiar o ego real e medi-lo pelo ego ideal ou ideal de ego – ele parecia utilizar indiscriminadamente os termos [...] Atribuiu um certo número de funções a essa instância, inclusive a consciência normal, a censura do sonho e certos delírios paranoicos. (Freud, 1977, v. XIX, p. 21)

Essa “instância psíquica especial”, que Freud depois a chama de superego, posteriormente passa a ser responsável por alguns estados patológicos de luto. O autor a assemelha ao ideal do ego, sendo que o superego é o que vai prevalecer e permanecer depois. Esse superego (Freud, 1923, p. 22) age como “o veículo do ideal do ego pelo qual o ego se mede”. Ele é derivado das catexias objetais infantis e é o que toma o lugar do Complexo de Édipo (pois nesse mecanismo há “a substituição de uma catexia objetal por uma identificação e introjeção do amor anterior” (Freud, 1977, v. XIX, p. 22), o que para o autor explica a existência da bissexualidade, na medida em que depende de com quem ocorre a identificação por substituição do amor).

Segundo o autor, o ego é uma instância ligada à consciência que regula as descargas de excitações para o mundo externo, a linguagem e as necessidades do indivíduo. Sobre isso, Laplanche e Pontalis (2001, p. 124, grifo do original) afirmam:

[O ego] instância que Freud, na sua segunda teoria do aparelho psíquico, distingue o id do superego. Do ponto de vista tópico, o ego está numa relação de dependência tanto para com as reivindicações do id, como para com os imperativos do superego e exigências da realidade. Embora se situe como mediador, encarregado dos interesses da totalidade da pessoa, a sua autonomia é apenas relativa.

Do ponto de vista dinâmico, o ego representa eminentemente, no conflito neurótico, o polo defensivo da personalidade; põe em jogo uma série de mecanismos de defesa, estes motivados pela percepção de um afeto desagradável (sinal de angústia).

Do ponto de vista econômico, o ego surge como um fator de ligação dos processos psíquicos; mas, nas operações defensivas, as tentativas de ligação da energia pulsional são contaminadas pelas características que especificam o processo primário; assumem um aspecto compulsivo, repetitivo, desreal.

TEMA 2 – O ID E O SUPEREGO

Embora uma parte do ego seja consciente, outra está ligada ao inconsciente, e é essa que tentamos acessar e trazer à consciência na análise para compreender a origem dos sintomas. As percepções recebidas pelo ambiente e as sensações e sentimentos oriundos de dentro são cuidadosamente avaliados pelo ego antes de se tornar conscientes. Para entender um pouco melhor esse funcionamento do ego, precisamos também compreender o id e o superego.

O inconsciente é um princípio originário que, quando não consegue expressão ou satisfação de suas pulsões, forma o sintoma, que se situa na “zona” compartilhada entre o id e o ego inconsciente. Nesse inconsciente está a fonte originária das pulsões, conceito de natureza quantitativa em que o somático (a libido) e o psíquico (as representações) se encontram. Segundo Laplanche e Pontalis (2001, p. 219), “os seus conteúdos [do id], expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, por um lado hereditários e inatos e, por outro, recalcados e adquiridos”.

O id é uma força interna desconhecida e indomável; poderíamos compará-lo à “Raposa de Nove Caudas”, entidade que vive dentro de Naruto (série de mangá). Essa raposa é uma Bijū, uma das bestas com caudas ou bestas de chacras, que possui grande poder, mas obriga Naruto a ficar constantemente acordado (ou seja, com a censura ativa) ou pode tomar conta do corpo do jovem ninja e destruir tudo o que está em sua volta. Ao mesmo tempo, quem acompanha a série percebe que a raposa também representa, em alguma medida, a personalidade do garoto, da mesma forma que o id constitui o polo pulsional da personalidade e que precisa ser controlado pelo ego e pelo superego. Apesar de em um primeiro momento a teoria freudiana classificar o id como sendo uma organização caótica, depois conclui que, na verdade, há alguma organização, especialmente quando observamos que as próprias pulsões são divididas em pulsões de vida e de morte.

Já o superego é uma instância de julgamento, de censura. Ele provoca o sentimento de culpa, a moralidade e o que é o ideal – sendo o sucessor do narcisismo e herdeiro do Complexo de Édipo (estabelecido, portanto, durante e após a fase anal). Autores como Klein e Spitz consideram a existência de um superego precoce ou primário, precursor de um superego final, e que já estaria presente desde a fase oral, quando a criança esboça comportamentos sádicos com o seio materno e introjeta objetos “bons” e “maus”.

O ego é corporal, é a projeção do corpo em sua totalidade e o que constitui nosso caráter. Sem ele, seríamos como os animais, que respondem a seus desejos e necessidades, reagem no modo de ataque ou figa e contêm seus impulsos quando há a censura de outro animal do bando como um líder ou uma fêmea. O ego nos coloca em um patamar diferenciado em relação aos animais, pois medeia nossos julgamentos e cria formas alternativas de lidar com o sofrimento e com aquilo que é recalcado. Segundo Freud (1977, v. XIX), o ego existe desde a fase oral. Nessa fase, o ego é um ego fraco que, diante das exigências pulsionais, sujeita-se a elas ou tenta recalcá-las. Já no narcisismo, esse ego assume as características do objeto e tenta forçar o id a reconhecer o ego como também um objeto de amor – há aqui a transformação da libido do objeto em libido narcísica, o que leva a um abandono dos objetos sexuais e uma espécie de sublimação, já que o indivíduo se basta consigo mesmo.

Quando o complexo de castração e o Complexo de Édipo ocorrem, o superego, como um herdeiro desse Édipo, interrompe o ego e o força a redirecionar o investimento para objetos externos – “você não pode ser autossuficiente; busque outro para satisfazê-lo”, diz esse superego, “mas com algumas regras e restrições – você deveria ter essas características, como seu pai ou sua mãe, e não deveria ter essas outras características, pois essas pertencem somente a seus pais ou figuras parentais relevantes”.

Esse superego, portanto, é o contraponto direto do id. À medida que o indivíduo cresce, esses representantes do que o superego permite ou não permite vão sendo substituídos por outras figuras, como professores, amigos ou outras figuras colocadas em posição de autoridade (padres, médicos, policiais etc.).

TEMA 3 – O DESENVOLVIMENTO INFANTIL GLOBAL E OS ORGANIZADORES PSÍQUICOS DE SPITZ

De forma didática, podemos falar sobre desenvolvimento infantil sob três diferentes perspectivas: cognitiva, motora e afetiva. O amadurecimento de cada uma dessas funções ocorre em paralelo e foi analisado por diversos autores. Piaget (1932), com relação ao desenvolvimento cognitivo, estabeleceu a existência de quatro fases principais: sensório-motor (de 0 a 2 anos), pré-operatório (de 2 a 7 anos), operatório-concreto (até 12 anos) e operatório-formal (a partir de 12 anos). Já o desenvolvimento motor tem, de modo geral, as características conforme indica o Quadro 1:

Quadro 1 − Características do desenvolvimento infantil

Marcos do desenvolvimento (alguns exemplos)

Idade

Aprende a olhar para uma pessoa, demonstra prazer e desconforto, adquire a capacidade de erguer a cabeça, aprende a diferenciar dia e noite, emite sons, reconhece quando falam com ela, faz gestos com as mãos e a cabeça, usa ao menos uma palavra com sentido, diferencia familiares de estranhos, imita gestos e brincadeiras, arrasta ou engatinha

Até 1 ano

Anda sozinho e cai raramente, combina duas ou três palavras, distancia-se da mãe, leva alimentos à boca com as próprias mãos, corre e sobe ou desce degraus

De 1 a 2 anos

Diz o próprio nome e nomeia objetos como sendo seus, veste-se com auxílio, usa frases e começa a ter controle dos esfíncteres

De 2 a 3 anos

Reconhece mais de duas cores, brinca com outras crianças e imita pessoas de seu cotidiano

De 3 a 4 anos

Veste-se sozinha, alterna momentos cooperativos com agressivos, é capaz de expressar preferências e ideias próprias

De 4 a 6 anos

Fonte: elaborado com base em Brasil, 2002.

Com base nas constatações sobre os marcos do desenvolvimento infantil, Spitz (1979) desenvolveu sua teoria sobre a existência de três organizadores psíquicos, que ocorrem basicamente no primeiro ano de vida da criança:

  • O primeiro organizador é chamado de estágio pré-objetal e ocorre até três meses. Durante esse período, o sorriso e o choro surgem como as primeiras formas de se relacionar com outras pessoas, em especial a mãe ou o cuidador. Dessa relação, vêm os primeiros processos de pensamento associados às experiências de prazer e desprazer. Nessa fase, a boca serve tanto para a alimentação quanto para conectar o bebê a seu objeto de prazer, a mãe. A oralidade antecede todas as funções que se desenvolvem, como olfato, visão, audição, paladar e tato. A partir do rosto da mãe, a criança também desenvolve a memória, que no início se dá quando o objeto reaparece exatamente como estava antes (ou seja, se a mãe colocar óculos, por exemplo, é comum o bebê se assustar e pensar que a mãe foi embora; somente depois a criança compreende que a pessoa com óculos à sua frente ainda é sua mãe).
  • O segundo organizador é chamado de estágio precursor do objeto e ocorre entre três e oito meses: nesse estágio, o tônus muscular permite à criança segurar a cabeça e permanecer sentada, além de pegar e soltar objetos por vontade própria. Surgem o medo de estranhos e a compreensão de ordens e proibições, e a criança passa a ser capaz de imitar alguns comportamentos dos pais.
  • O terceiro organizador psíquico é o estágio do objeto real. Nessa etapa, a criança explicita sua preferência pela mãe, surge a compreensão de palavras como “não”, “tchau” e “passear”, e os primórdios da comunicação e da fala, ainda que somente a mãe compreenda o que ela lhe diz. O não é o primeiro conceito abstrato adquirido.

TEMA 4 – A TESE DE MELANIE KLEIN

Esse estudo de Spitz foi inspirado, em grande medida, pelos trabalhos de Winnicott, seguidor da teoria kleiniana. Melanie Klein foi uma autora pós-freudiana cuja principal proposta de mudança foi a de que as estruturas infantis passariam por duas posições principais: a esquizoparanoide e a depressiva. A primeira ocorre durante os quatro primeiros meses de vida e se constitui como uma modalidade na qual as pulsões agressivas coexistem com as de prazer, sendo ambas igualmente forte e fundidas. Além disso, o objeto é parcial (o principal objeto parcial é o seio) e clivado entre bom e mau, estando aqui presente um sentimento constante e persecutório de angústia pelo medo do objeto mau.

Os processos psíquicos predominantes nessa posição são a introjeção e a projeção, com a recusa no reconhecimento da realidade que envolva o objeto mau e o controle absoluto sobre ele. A inveja dessa fase é uma expressão oral-sádica dos impulsos destrutivos que operam desde o nascimento; têm uma base constitucional e se apresentam pelo impulso invejoso de tomar e estragar o objeto. Alguns dos principais mecanismos de defesa aqui são: idealização, o que deixa o objeto certo tempo fora do alcance do ataque invejoso; confusão, na qual há falha da clivagem primária entre o bom e o mau objeto; fuga da mãe para outras pessoas; dispersão dos sentimentos de amor e gratidão para outra pessoa que não é a mãe; depreciação do objeto e ingratidão; autodepreciaçãointrojeção voraz do peito, de tal modo que ele fica totalmente possuído na mente do bebê e o sujeito se confunde com ele; o provocar inveja nos outros; o abafar do amor e intensificar o ódio, mostrados na forma de indiferença ao que causaria inveja; retração, com o afastamento material ou afetivo para não ter a oportunidade de sentir inveja; reforço de independência, com o sujeito exagerando sua autossuficiência; e acting out, no qual o desejo se realiza mediante uma ação cujo sentido permanece inconsciente.

Já a posição depressiva, que no desenvolvimento normal se dá no segundo trimestre do primeiro ano de vida, instaura-se após a posição esquizoparanoide e tem como principal característica a percepção da mãe como figura total, e não apenas como um objeto parcial (o seio materno), levando assim a uma aproximação entre o objeto fantasioso interno e o objeto externo, pois o ego tem maior capacidade de integrar e sintetizar os objetos.

As pulsões de prazer e ódio se combinam, e o objeto é amado e odiado simultaneamente, criando um sentimento de ambivalência com relação ao objeto. Nesse momento, a angústia infantil também sofre uma mudança, pois se antes o medo de perda do objeto provocava o sadismo infantil, na posição depressiva esse sadismo é alterado para uma inibição da agressividade e uma reparação do objeto pelos danos causados das fantasias onipotentes. Com isso, a relação com a mãe deixa de ser exclusiva, e a criança começa a se aproximar e a se identificar com outras pessoas, o que Melanie Klein chama de Complexo de Édipo precoce.

Para que o ego da criança possa se estabelecer de forma saudável, é fundamental que ela ame e seja amada, pois a integração de seu ego depende das relações com o objeto materno. A falta de segurança quanto ao amor do outro gera desintegração e fragmentação, que estão intimamente ligadas ao medo da morte. Embora o brincar tenha sido mais profundamente explorado por Winnicott, Klein já observara em seus estudos que o brincar infantil representa suas experiências, traduz os sentimentos da criança e a auxilia, como uma espécie de projeção, a elaborar e dar conta desse mundo, principalmente daquilo que não é dito.

Nas consultas com crianças, Klein muitas vezes verbalizava a seus pequenos pacientes situações e medos que, de alguma forma, não eram possíveis de ser verbalizados em palavras, mas que apareciam nas brincadeiras mesmo que as crianças não fossem capazes de compreender por que estavam brincando daquilo. Para aqueles que já trabalharam com crianças adotadas, por exemplo, é comum vermos nos desenhos e brincadeiras elas expressarem que, de alguma forma, sabem de sua condição, e pela falta de informação sentem medo e insegurança. O brincar e os desenhos aqui surgem como uma tentativa de elaboração da informação omitida, e o papel do terapeuta é ajudar a criança e a família a traduzirem tal informação de maneira a dar mais segurança à criança e, com isso, reintegrar seu ego.

TEMA 5 – CONTRIBUIÇÕES LACANIANAS

Ao longo de nossa jornada do conhecimento nesta disciplina, vimos muitos conceitos novos. Basicamente, o que precisamos compreender no desenvolvimento das crianças é que toda análise de um sintoma infantil precisa considerar o contexto que elas se inserem, sua família, escola. É na interação com a psicologia, a pediatria e a pedagogia que podemos ser capazes de compreender os sintomas infantis. Segundo Manonni (1964, p. 196), “minha experiência ensinou-me que as diferentes formas de reeducação, tão preciosas quando são empregadas com conhecimento de causa, de nada servem quando a criança não está apta a beneficiar delas como indivíduo autônomo e responsável”. Assim, a intervenção psicanalítica precisa encontrar o momento certo para ter efeito, ou o sintoma, a “palavra amordaçada”, apenas seguirá seu curso e poderá até erguer defesas obsessivas contra as tentativas de tratamento.

A terapia infantil é diferente da terapia com adultos, das técnicas rígidas que executamos ao trabalhar com psiconeuroses. É diferente do trabalho pedagógico, do trabalho assistencial e de reeducação, pois o sintoma, como cita a autora, tem “uma função biológica como medida defensiva e razão de ser social” (Manonni, 1964, p. 204). É também diferente do atendimento médico, pois se o pediatra toma muitas vezes o sintoma “ao pé da letra”, o analista considera o sintoma da criança como estando inserido na “ideia fantasma” desse corpo – pois a imagem do corpo, como representação especular de um eu-pele, tem papel fundamental na gênese da personalidade (Andrade, 1984) – e na representação mitológica do sintoma familiar (ou seja, o não dito familiar se transforma em mito no imaginário infantil).

As crianças, por serem em demasiado sensíveis ao ambiente no qual se encontram e atentas às necessidades das pessoas que amam, muitas vezes introjetam as preocupações e os sintomas dos adultos e projeta em seus próprios sintomas, e esses sintomas só podem ser reparados quando a angústia que foi mobilizada tiver sido libertada, pôde encontrar um caminho de liberação saudável. Ou seja, ao tratarmos uma criança,

tratar-se-á, em relação com a própria história dos pais, de fazer compreender a estes, a gênese das dificuldades do filho, sem chamar a atenção para a culpabilidade, valorizando os pais no seu papel de pais, a criança na sua condição de indivíduo, deixando ao mesmo tempo aparecer os mal-entendidos. (Manonni, 1964, 215-216)

A construção da imagem do corpo, na teoria lacaniana, tem relação direta com o estádio do espelho. O estádio do espelho, assim, é um equivalente do momento precoce do Complexo de Édipo, enquanto este ainda se encontra no narcisismo (ou seja, no momento intermediário entre o autoerotismo e o amor objetal após o Édipo).

No estádio do espelho, a criança inicialmente vê sua imagem e pensa ser outra criança (semelhante a alguns animais que pensam estarem vendo, no espelho, apenas um outro da mesma espécie); depois, ela entra em um período transitório, no qual tem dificuldade de compreender o que significa aquela imagem que vê no espelho, semelhante ao que observamos em alguns cachorros com inteligência superior. Por fim, passa a compreender que a imagem projetada é a dela, sendo como o principal sinal dessa mudança a sua capacidade de observar um detalhe em seu rosto refletido no espelho e tocar não o espelho, mas o próprio rosto. Ao alcançar essa fase, ela atravessa a ordem simbólica, que surge com a aquisição da linguagem, como estrutura, e a intervenção do pai ou do Nome do Pai (do ponto de vista freudiano, o Complexo de Édipo e o complexo de castração), como lei associada ao real e ao imaginário. O real, aqui, constitui o que subsiste fora da simbolização, e o imaginário é da ordem do inconsciente, que se expressa por meio do simbólico a partir das experiências vividas pelo indivíduo.

NA PRÁTICA

A prática que traremos aqui será sobre a morte. Quando falamos desse tema com as crianças, o processo é totalmente diverso daquele encontrado com adultos. Em geral, elas têm dificuldade de compreender esse conceito, por demais objetivo e subjetivo ao mesmo tempo; mais precisamente, a dificuldade reside na ideia de que alguém pode partir e nunca mais voltar.

Em meio à pandemia e nos hospitais, muitos pais se veem diante do desafio de tratar do assunto com seus filhos, especialmente quando as crianças vivem diretamente as experiências de perdas. Uma criança de três anos, por exemplo, ainda está em processo de desenvolvimento, e sua compreensão a respeito da morte precisa ser discutida várias e várias vezes para que ela apreenda um conceito que só o seria muito mais tarde. Tal como na investigação sobre “de onde vêm os bebês?”, a criança que vivencia o luto também se encontra impelida a descobrir “o que é a morte?”. Em um exemplo apresentado no hospital, uma criança associou a morte do irmão a um brinquedo que quebrou, pois ambos não seriam restaurados, não podiam ser substituídos e, de alguma forma, ela teria que aprender como lidar com aquela nova condição.

Um menino de 13 anos, à beira da morte por causa de um câncer, tentava compreender como poderia aproveitar a vida que lhe restava e aprender algo novo se não lhe restava mais tempo. Além disso, ele se preocupava sobre como poderia explicar à irmã mais nova por que não estaria com ela no próximo aniversário, sem com isso criar uma dor que fosse insuportável na menina. E, estando completamente fora do que se espera para uma criança de sua idade, decidiu chamar os pais e lhes dizer que deveriam parar de brigar, que deveriam parar de se culpar e culpar os médicos pela condição que ele se encontrava, pois isso não resolvia nada, eles sofreriam mais e o menino não conseguiria partir em paz. Quando os pais se desculparam e lhe prometeram que aprenderiam a conviver e que cuidariam bem da irmã, o menino se foi.

O amor que as crianças enfermas recebem nos leitos de hospital também é fundamental para a continuidade do desenvolvimento psicossexual. Permitir a elas ter os mesmos hábitos de uma criança saudável, usar roupas de sua idade, ser abraçadas e não viver em uma bolha (como literalmente ocorreu com um menino americano que viveu 12 anos em uma bolha para não se contaminar) são alguns dos exemplos. No passado, os bebês que nasciam eram levados para uma sala isolada a fim de permitir à mãe um pouco de descanso. Depois, os pediatras observaram entre as crianças uma expressiva diferença no sorriso e na capacidade de reagir ao outro quando eram levadas para os berçários e quando podiam ficar ao lado das mães.

Outros experimentos que colocavam macacos de pelúcia perto de filhotes órfãos geravam um desenvolvimento superior em comparação com filhotes privados de qualquer contato físico. Assim, o desenvolvimento psicossexual infantil é diretamente influenciado por questões genéticas e pelo amor que recebemos.

FINALIZANDO

Nesta aula, fizemos uma breve apresentação sobre o texto “O ego e o id”, apresentamos a teoria dos organizadores psíquicos de Spitz, as contribuições kleinianas e lacanianas para os estudos a respeito de crianças. Por fim, na atividade prática trouxemos o tema da morte como o correlato para as investigações infantis acerca da origem dos bebês.

Esperamos que você tenha aproveitado as discussões propostas aqui para conhecer um pouco mais das origens da psicanálise e convidamos a continuar explorando esse campo do saber tão envolvente como é a psicanálise.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. L. A. A abordagem psicanalítica. In: _____. Distúrbios psicomotores: uma visão crítica. São Paulo: EPU, 1984. p. 55-60.

BIRMAN, J. Freud e a interpretação psicanalítica. Rio de Janeiro: Relumé-Dumará, 1991.

BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. (Caderno de Atenção Básica).

FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (1886-1899) – livro X, XI e XII. Rio de Janeiro: Imago, 1977.

GARCIA-ROZA, L. A. Introdução à metapsicologia freudiana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. v. 1-3.

KLEIN, M. Inveja e gratidão. Rio de Janeiro: Imago, 1974.

_____. Psicanálise de crianças. Rio de Janeiro: Imago, 1932.

_____. Temas de psicanálise aplicadaRio de Janeiro: Jorge Zahar, 1969.

LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

MANONNI, M. A criança atrasada e a mãe. São Paulo: Martins Fontes, 1964.

MEZAN, R. Freud: a trama dos conceitos. São Paulo: Perspectiva, 1980.

PIAGET, J. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus, 1932.

ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de psicanálise. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

SPITZ, R. A. O primeiro ano de vida. São Paulo: Martins Fontes, 1979.

WINICOTT, D. O brincar e a realidadeRio de Janeiro: Imago, 1975.

sábado, 8 de julho de 2023

Teoria do desenvolvimento psicossexual infantil

 Teoria do desenvolvimento psicossexual infantil

- como se da as fases do desenvolvimento infantil
-o que acontece na infância ? quais as principais mudanças 


Tema 1 - Aberrações sexuais 

pulsões de auto conservação = fome
pulsão sexual = libido 

Dois tipos de desvio da libido 

- Ao objeto 
- Ao alvo


Desvios relativos do objeto sexual


- bissexualidade de todo indivíduo
-a escolha homossexualidade

Freud faz menção sobre a escolha de sexualidade do ser e do sofrimento quando este não escolhe o formato que realmente quer, DSM mostra sobre transtornos sexuais quando a o sofrimento da pessoa ou de um outro.



Desvios relativos do alvo sexual 


- As preliminareas como um fim em si 
- As transgressões sexuais: 
Sexo oral e anal.



Segundo Freud (1905), há nos homens a existência do que ele chama de pulsão sexual, ao que ele compara com a pulsão de nutrição que seria a fome. O equivalente dessa fome, na pulsão sexual, Freud dá o nome de “libido” (que seria como uma energia que impulsiona o desejo). Segundo o autor, a opinião popular da época acreditava que essa libido estaria ausente na infância, surgindo na puberdade e direcionada ao ato sexual. No entanto, os estudos de Freud (1905) demonstraram a existência de dois tipos de desvios dessa libido: referentes ao objeto sexual (de quem procede a atração sexual) e ao alvo sexual (ato a que a libido conduz).

É importante destacar, aqui, que essa classificação de Freud não é mais utilizada pelos profissionais da saúde. No último documento do DSM-5 (2013) e do CID-11 (2020), a nomenclatura hoje utilizada para o que Freud chamou de perversões é “transtornos da preferência sexual” e “transtornos parafílicos”, sendo que em ambos a homoafetividade deixou de ser considerada como um transtorno, e a transexualidade (que não será tratada aqui) é considerada como um transtorno na medida que gera sofrimento ao indivíduo, não sendo a mesma coisa que a não identificação com o gênero de origem (ou seja, um homem que se percebe como mulher ou mulher que se percebe como homem). Como o objetivo aqui é apresentar os textos de origem freudianos, manteremos as terminologias apenas para facilitar na compreensão desse texto.

1.1 DESVIOS RELATIVOS AO OBJETO E AO ALVO SEXUAL

O desvio do objeto é quando o desejo não é pelo sexo oposto em idade madura, ou seja, de um homem para uma mulher e vice-versa. Em seu primeiro exemplo, Freud (1905) aborda a homoafetividade, a que ele chama naquele momento de “invertidos” (embora hoje vemos a terminologia como inadequada para abordar o tema). Esse é um tema delicado na psicanálise, sobre o qual iremos expor também no tópico “Na prática”. Freud (1905), naquela época, afirmava que a comunidade homoafetiva podia tratar de sua condição sexual com naturalidade (ou seja, com a mesma aceitação natural que um heterossexual tem de sua condição) ou com revolta (ou seja, tratando de sua condição como se fosse uma patologia). Para o autor, a origem dessa condição poderia surgir junto com o indivíduo, numa época remota de sua vida ou pouco antes da puberdade; além disso, poderia persistir por toda a vida ou ocorrer apenas durante determinado tempo.

A princípio, a homossexualidade (termo que Freud usa nesse texto) foi considerada como contendo dois elementos: o caráter inato e a “degeneração”, sendo esse último termo devendo ser dissociado de sua forma pejorativa como um desvio grave da norma ou com baixa capacidade de sobrevivência. Segundo o autor, entende-se como degenerado aqui apenas o desvio no caráter sexual, uma vez que essa condição não tem qualquer relação com o desempenho laboral, intelectual ou ético do indivíduo. Já o caráter inato pode ser somente para os que Freud chama como “absolutos” (ou seja, aqueles que já nasceram com essa condição e que a escolha por outra pessoa do mesmo sexo é a única opção possível), enquanto para o demais ele afirma a possibilidade de aquisição durante a infância, como se a pessoa mantivesse a bissexualidade após a idade adulta. No entanto, ele admite que possuía pouco material para considerar suas observações como conclusivas.

Em um primeiro momento, Freud (1905) tentou usar do hermafroditismo como um protótipo para explicar a existência da bissexualidade humana, mas foi infeliz nessa primeira tentativa. Depois, avaliou os estudos que afirmavam que nos homoafetivos se teria um cérebro contrário ao corpo presente (ou seja, um cérebro feminino em um corpo masculino ou um cérebro masculino em um corpo feminino). No entanto, para Freud, seria como substituir o problema psíquico pelo problema anatômico, o que segue sem resolver a questão. Por fim, o autor considerou a teoria de Kraft-Ebing como a mais próxima de uma explicação razoável:

Segundo Kraft-Ebing (1895, 5], a disposição bissexual dota o indivíduo tanto de centros cerebrais masculinos e femininos quanto de órgão sexuais somáticos. Esses centros começam a desenvolver-se na época da puberdade, na maioria das vezes sob a influência das glândulas sexuais, que independem deles na disposição [originária]. (Freud, 1905, p. 135)

Isso explicaria por que o comportamento e a organização psíquica de uma pessoa independem de sua condição sexual: ou seja, uma mulher pode sofrer uma transformação psíquica que a torne mais masculina, ou um homem pode se comportar exatamente como um homem heterossexual normal.

Embora naquele momento se acreditasse que a homoafetividade fosse oposta ao normal, essa explicação só poderia funcionar para uma parcela das pessoas, assim como o é para a heterossexualidade (pois a pessoa vai contra seus desejos para buscar a aceitação social). Assim, para Freud (1905), a melhor explicação seria a de que o objeto sexual não é o mesmo sexo, mas uma conjugação dos caracteres de ambos os sexos e um reflexo especular da própria natureza bissexual. O objetivo sexual dos invertidos é diverso, sendo menos relevante o órgão sexual em si, pois nos homens heterossexuais também há o prazer intenso na relação sexual anal e masturbação, assim como nas mulheres heterossexuais há também uma preferência com o contato bucal.

Por fim, e aqui devemos excluir que a homoafetividade seja um desvio, Freud (1905) inclui no grupo dos desvios de objeto as pessoas que escolhem os animais e as crianças. Segundo o autor, essas escolhas muitas vezes se dão com mais frequência em pessoas com mais oportunidades para sucumbirem a esses comportamentos (como professores e camponeses), e a diferença entre pessoas com esses comportamentos e as consideradas loucas é somente o grau de intensidade do transtorno sexual. Embora Freud (1905) afirme nesse texto que os distúrbios sexuais nos loucos não são diferentes dos distúrbios sexuais das pessoas consideradas sãs, é importante frisar que esses dois últimos exemplos posteriormente foram enquadrados fora do grupo da normalidade, uma vez que esse tipo de desvio sexual foge das regras e limites sociais, podendo ser comparado ao próprio incesto.

1.2 DESVIOS RELATIVOS AO ALVO SEXUAL

Para Freud (1905), o objetivo ou alvo sexual normal é o sexo genital, que leva ao alívio da tensão e a extinção temporária da pulsão (semelhante a quando comemos e saciamos nossa fome). A sexualidade normal pode incluir o uso temporário de outras partes do corpo antes do início do coito (conhecidas dentro das famosas “preliminares”: o beijo, as carícias etc.), e se distinguem dos exemplos que serão dados a seguir quando elas se tornam o objetivo final que não o contato genital. Existem dois tipos de perversões aqui, que na verdade podem ser consideradas como a mesma coisa, pois terminam com o desvio do objetivo sexual em si: I) as transgressões ou o uso de outras partes do corpo obter prazer, e; II) as demoras das preliminares. Melhor explicando:

  1. As transgressões aqui são consideradas como um enfraquecimento do juízo, uma cegueira lógica semelhante à obediência do paciente durante a hipnose (e que depois ele aprofunda em seu texto “Psicologia das Massas”: a submissão que passa pela credulidade amorosa; a substituição da figura de autoridade que deveria ter desembocado em um vínculo amoroso com uma pessoa do outro sexo, mas que se transforma na obediência cega a uma figura supervalorizada. Essa correlação se dá na medida que, em ambos os casos, ocorre a restrição do objetivo sexual em si – a união de órgãos sexuais – para o desvio da libido para outros fins). Alguns dos exemplos aqui são: o sexo oral, pois embora a pessoa não compartilhe da escova de dentes do outro por asco, a libido rende o sentimento de asco em prol da obtenção de prazer; o sexo anal, criando uma sensação [imaginária] semelhante em homens e mulheres – ou seja, ambos os sexos se igualam nessa experiência; e o fetichismo, como a obtenção de prazer por partes do corpo como pés e cabelos, ou mesmo o desejo por pessoas com defeitos físicos específicos, peças de roupa ou objetos em particular, que por alguma razão do próprio pervertido conservam uma relação com o objeto sexual. Ele se origina na primeira infância ou a partir de uma conexão simbólica, e passa a ser um transtorno quando gera sofrimento ou dor ao outro contra a sua vontade, além de colocar a saúde e a vida do indivíduo em risco.
  2. Aqui, o excesso de preliminares criticadas por Freud inclui o tocar, o olhar (como no caso dos voyeurs), o sadismo e o masoquismo (ter prazer em provocar dor no outro ou com o próprio sofrimento ou dor). O sadomasoquismo será mais bem trabalhado em outros textos de Freud (como “O problema econômico do masoquismo”, escrito em 1924), mas serve como um modelo de esclarecimento da perversão. O masoquismo é oposto ao sadismo, mas sempre o acompanha, pois na perversão, o objetivo sexual pode ocorrer nas formas ativa e passiva conjuntamente no mesmo indivíduo, o que faz com que alguém que sente prazer em infligir dor em seu objeto sexual também terá prazer em dores que virá a sofrer ele próprio durante suas relações sexuais.

TEMA 2 – PERVERSÕES E PSICONEUROSES

A perversão é classificada como uma doença, um transtorno. Segundo Freud (1905), existem perversões dos mais variados tipos, incluindo algumas muito distanciadas do normal (como necrofilia e coprofagia), e que vão muito além de sentimentos como vergonha, repugnância, horror, nojo ou dor. A perversão se caracteriza pela existência desses transtornos no âmbito sexual, mesmo que em outros aspectos o indivíduo se apresente plenamente dentro da normalidade. A natureza patológica da perversão está em sua relação com o normal, o que significa que ela se torna um transtorno quando apresenta um grau mais elevado de fixação e exclusividade do comportamento.

Nas neuroses, a pulsão e o recalque são os principais responsáveis na formação dos sintomas: na histeria, os sintomas são deslocamento de desejos, por associação; na neurose obsessiva e nas fobias, os sintomas representam a autocensura por medo e nojo, e na paranoia ocorre a projeção dos desejos recalcados sob a forma de alucinações. Nas cartas sobre as psiconeuroses de defesa, o autor também comenta sobre a cronologia dessas psiconeuroses, ou seja, quando elas se estabelecem. Se considerarmos que existe uma maturação do corpo humano em paralelo a essas experiências, poderíamos estabelecer uma correspondência entre as experiências com o próprio corpo e essas psiconeuroses. Com isso, Freud então cria o conceito de zonas erógenas.

As zonas erógenas se comportam como uma porção do aparelho sexual, e podem servir como aparelhos subordinados aos órgãos genitais ou como substitutos deles quando há a formação dessas psiconeuroses. Embora a maioria dos psiconeuróticos adoeça após a puberdade, o processo de recalque se dá durante a infância e se estabelece com o retorno do recalcado, geralmente associado com fatores externos tardios como limitação da liberdade, perigos em geral e inacessibilidade do objeto sexual normal, os quais pervertem pessoas que, de outra forma, poderiam ter sido normais. Assim, podemos dizer que a neurose é uma junção do genético com a experiência prévia do indivíduo. Já as perversões podem se originar de características inatas ou surgir de fetichismo, e se expressam desde cedo em crianças.

O conceito das zonas erógenas, embora já tenha surgido nas cartas a Fliess, é trabalhado pela primeira vez aqui. De modo geral, significa qualquer parte do corpo suscetível de se tornar uma fonte de excitação sexual: a boca, o ânus, o pênis ou a vagina, ou qualquer outra parte, já que na psicanálise todo o corpo, pele e membros pode se tornar uma fonte potencial de prazer. Iremos tratar em detalhes sobre as fases na sequência.


TEMA 3 – A SEXUALIDADE INFANTIL

A opinião popular julga erroneamente que a pulsão sexual está ausente nas crianças e só se desenvolve na puberdade, e que muitas das doenças dos adultos surgem em consequência de hereditariedade; ou que a presença de pulsões sexuais em crianças ocorre como casos excepcionais de depravação precoce. Segundo Freud, nós nos esquecemos de grande parte do que nos acontece na infância, restando apenas fragmentos (a amnésia infantil). Durante essa época, reagimos de maneira vívida (com amor, raiva e tristeza) ao que nos acontece, e constituem o princípio da nossa vida sexual. O esquecimento dessas experiências infantis ocorre como um processo semelhante ao da amnésia neurótica em relação a eventos emocionalmente relevantes: mais do que isso, a amnésia neurótica existe porque traços de memória, interligados entre si, foram recalcados, misturando memórias recentes com memórias precoces. Assim, a amnésia neurótica não existe sem a amnésia infantil.

As pulsões sexuais começam desde o nascimento e se desenvolvem durante a infância. Nesse período, a formação de traumas associados à amnésia infantil faz com que as experiências sejam recalcadas, podendo ser futuramente uma fonte de sintomas dependendo das características individuais. A educação está diretamente relacionada com a formação do recalque, pois é a principal fonte para a criança aprender sobre as regras sociais e como deve se estabelecer sua sexualidade nesse contexto. Como vimos antes, todo material recalcado necessita ser extravasado, podendo ser por meio dos sonhos, dos sintomas, das fantasias e da sublimação, além do próprio sexo. A sublimação é uma forma socialmente aceita e que se expressa na forma de talentos individuais para os esportes, para as artes ou para a literatura, por exemplo.

3.1 AS MANIFESTAÇÕES INFANTIS DA SEXUALIDADE

Uma das primeiras manifestações da sexualidade infantil é o que Freud (1905) chama de chuchar com deleite, que é o comportamento do infante de fazer o movimento de mamar sem estar realmente se alimentando do leite materno. Outro comportamento é o chupar o dedo ou a chupeta, às vezes acompanhado de segurar a própria orelha ou a orelha de outra pessoa. Esse comportamento aparece na primeira infância e espera-se que se encerre na maturidade. Esse chuchar (seja o peito, o dedo ou a chupeta) tem o objetivo de acalmar o bebê, de levá-lo ao sono ou a uma reação semelhante ao orgasmo. O autor considera que as crianças que buscam o sugar como uma forma de prazer autoerótico tendem a, quando adultos, dar uma importância erógena para os lábios. Assim, o objetivo da pulsão sexual infantil é obter prazer, tranquilidade e satisfação por meio de uma parte do corpo que for escolhida (erógena) para estimular essa sensação.


Assim como a zona labial (ou oral), a zona anal também pode atuar como uma via sexual. Um exemplo disso são as crianças que seguram as fezes até que seu acúmulo provoque intensas contrações musculares que provocam dor e prazer, como se fosse um comportamento masturbatório do ânus. Sobre a masturbação, na psicanálise distinguem-se três fases de masturbação infantil: uma pertencente à primeira infância, outra por volta dos quatro anos e uma terceira na puberdade. A excitação sexual relativa da primeira infância, assim como as demais, busca satisfação pela masturbação ou pela polução noturna, mas cada uma delas deve ter uma separação marcada no desenvolvimento infantil.

A continuidade desse comportamento masturbatório ao longo da infância pode representar um desvio de conduta e posteriormente se transformar em um transtorno. As crianças podem ter todo tipo de irregularidades sexuais, já que barreiras como a vergonha, a repugnância e a moral ainda não foram formados. Nesse sentido, são chamadas, portanto, de perverso-polimorfas. Laplanche e Pontalis (2001, p. 342) esclarecem que a perversão faz parte do comportamento infantil e é esperado como parte de sua interação com o ambiente. E, na medida que essa perversão está ligada às pulsões parciais pertencentes às zonas erógenas durante o desenvolvimento infantil, se apresenta, portanto, como uma disposição perverso-polimorfa.

As crianças, durante seus primeiros anos, têm muito prazer em expor seus corpos, com ênfase nas suas partes genitais. Quando adquirem a capacidade de sentir vergonha, essas crianças passam a exibir curiosidade pelas genitais de outras pessoas e pelas diferenças anatômicas entre os sexos. Além disso, outra característica das crianças é a crueldade, pois o sentimento de piedade se desenvolve somente mais tarde. Esse impulso de crueldade surge do desejo de domínio (sadismo infantil), o que leva algumas crianças a um desejo de bater em animais e coleguinhas, e pode levar ao prazer de apanhar nas nádegas, relacionado à passividade (masoquismo).

Entre três e cinco anos a criança chega no primeiro ápice sexual. Nesse momento, surge a necessidade de fazer perguntas, e essa necessidade pode ser despertada por diversos motivos, como a chegada de um novo bebê. Nesse sentido, a primeira dúvida costuma ser de onde vêm os bebês (para as pessoas que têm filhos adotados, por exemplo, não é incomum a criança perguntar sobre seu processo e como ela poderia ter se tornado filha daqueles pais sem ter sido gerada no ventre da mãe). Ao perguntar sobre a origem dos bebês, a criança começa a compreender a própria constituição sexual, a diferença anatômica dos sexos e o papel fertilizante do esperma. Segundo Freud (1905), essa curiosidade pode ser comparada ao enigma da Esfinge (chamado de Complexo de Édipo quando Freud for apresentar o caso do Pequeno Hans). Ao descobrir as diferenças sexuais entre homens e mulheres, surge o complexo de castração (nas meninas se refere à frustração de não ter pênis, e nos meninos se refere ao medo de perder seu pênis) e a inveja do pênis.

TEMA 4 – FASES E FONTES DO DESENVOLVIMENTO SEXUAL

Existem quatro fases de desenvolvimento sexual humano: a fase oral (que envolve o desejo de incorporar o objeto), sádico-anal (que inicia a relação ativa e passiva), fálica e genital. Entre as fases fálica e genital há o período de latência, pois na fase fálica há a organização genital infantil sob o primado das pulsões parciais (e, nesse sentido, o falo é o único órgão genital), e na fase genital constitui-se a genitalidade propriamente dita para os sexos. A escolha de um objeto é difásica, uma entre as idades de dois a cinco anos (infantil) e outra no início da puberdade e que determinará o resultado da vida sexual. Essas determinadas partes do corpo são escolhidas como zonas erógenas principais por causa de sua relevância e determinadas idades: assim, a boca é o ponto de contato afetivo e de nutrição com o corpo da mãe desde o nascimento; o ânus representa a fase quando a criança precisa aprender a controlar seus esfíncteres e, com isso, controlar seu próprio corpo (normalmente, após os dois anos), e a fase genital ocorre na puberdade e no término do amadurecimento sexual, na adolescência. Nesse sentido, Freud amplia e traz a existência de dois tipos de pulsões: sexuais e de autoconservação, como o amor e a fome. Dentro das pulsões sexuais, estão inseridas as pulsões parciais, as quais estão ligadas a cada órgão de acordo com a idade, e que se juntam para se tornarem pulsões totais somente na vida adulta. Posteriormente, em “Pulsões e seus destinos”, Freud irá mudar essa divisão das pulsões para pulsões de vida e de morte, mas isso é tema para uma outra aula.

A excitação sexual pode ter diversas origens: na repetição de um prazer já experimentado; pela estimulação das zonas erógenas; como expressão de algumas pulsões como a crueldade. Essa excitação pode ser adquirida pela agitação do corpo e na estimulação sensorial desse corpo (olhos, ouvidos, pele e músculos), por isso as crianças também têm muita satisfação e necessidade em praticar exercícios físicos. A tarefa intelectual também pode provocar prazer, pois toda atividade praticada ou experimentada com intensidade pode gerar prazer e estimular a sexualidade. Mas é importante frisar que a estimulação só ocorre dependendo da qualidade dos estímulos, do quanto a criança está satisfeita em praticá-los (ou seja, não adianta forçar a criança a uma atividade que não a faz feliz porque isso não a irá estimular adequadamente).

TEMA 5 – AS TRANSFORMAÇÕES DA PUBERDADE

Até antes da adolescência, as pulsões sexuais são autoeróticas. Com a chegada da puberdade, um novo objetivo sexual aparece, pois um dos principais processos da puberdade é o desenvolvimento dos genitais externos. Na adolescência, a pessoa passa a ter a capacidade de se estimular sexualmente de três formas: externamente (p. ex., pela masturbação), internamente (p. ex., uso de substâncias) e mentalmente (p. ex., vídeos, filmes e sonhos). Essa excitação independe da capacidade fértil do indivíduo e está diretamente relacionada com a libido (que já mencionamos antes), que é a responsável pela geração de prazer e desprazer: prazer pela eliminação da tensão, e desprazer porque cria mais desejo de prazer (semelhante ao uso de drogas: quanto mais usamos, mais queremos experimentar). A libido pode ser considerada como uma força quantitativamente variável, com caráter qualitativo. Aqui, Freud (1905) estabelece que na infância há uma libido do ego, ou libido narcísica (na medida que há um autoinvestimento) e depois surge uma libido do objeto. Portanto, temos aqui dois tipos de libido (vale informar que, quando Freud escrever seu texto “Além do princípio do prazer”, ele passará a trazer o conceito de libido como Eros, ligado às pulsões de vida, em oposição às pulsões de morte).

5.1 A DIFERENCIAÇÃO ENTRE HOMENS E MULHERES

As disposições sexuais de meninos e meninas são percebidas na infância. E, embora seja possível identificarmos diferenças entre eles, a atividade autoerótica é idêntica em ambos (lembrando que, aqui, não estamos discutindo a concepção moderna de gênero, mas como se dá o comportamento infantil com os órgãos sexuais, pênis e vagina/ clitóris). Com a puberdade, o objetivo sexual deixa de ser autoerótico e focado na mãe e passa a ser em um outro diferente da mãe.

As relações afetivas que permeiam a vida das crianças é que irão formar um modelo de suas relações afetivas futuras – por meio do modelo que a criança concebe com a pessoa que cuida dela, acaricia-a, beija-a, essa criança buscará no futuro um objeto sexual substituto dessa relação. Quando a criança experimenta relações não saudáveis, como excesso de mimos ou privação de afeto, isso pode desencadear futuramente comportamentos como ansiedade e carência afetiva intensa, ou ser despertada sexualmente mais cedo. É claro que seria muito mais fácil para a criança manter o direcionamento de seus impulsos sexuais para as pessoas que cuidaram dela; porém, a barreira do incesto impede esse tipo de relação. O período de latência até a puberdade auxilia a criança a impedir o desenvolvimento desse tipo de relação incestuosa e ajuda a criança a criar moldes para o relacionamento com outras pessoas. Durante a escolha do objeto, que ocorre em paralelo ao amadurecimento sexual, há também o desejo de independência em relação aos pais (mas isso não ocorre em todos os jovens). Nos psiconeuróticos, o desligamento dos pais e o impedimento incestuoso causam repúdio à sexualidade, e a escolha do objeto se mantém no inconsciente, procurando sempre uma relação assexual e se mantendo apegado às suas antigas relações infantis. As pessoas normais também sofrem influência do incesto, porém contornam essa frustração ao buscarem uma pessoa madura com características de seu pai, mãe ou cuidador.

Durante a escolha do objeto, na adolescência, irá contar a atração sexual pela constituição anatômica e psicológica antagônica, a repressão da sociedade, o desenvolvimento de uma relação hostil com pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto, além de experiências infantis como divórcio, morte etc. Ou seja, tudo que acontece na infância pode influenciar os relacionamentos futuros da criança, muito embora eles não sejam determinantes (nem todo mundo que vivencia um luto ou um trauma terá as mesmas escolhas objetais).

NA PRÁTICA

A proposta prática desse tema é vasta, mas aqui gostaríamos de trabalhar sobre o tema da homoafetividade. Mais especificamente, a forma como as instituições psicanalíticas lidaram com esse tema controverso durante o século XX. No texto “A psicanálise ‘no armário’, a autora comenta que na década de 1920 era sabido que as sociedades de psicanálise recusavam candidatos às escolas que fossem assumidamente gays ou que revelassem essa informação durante o processo seletivo. Isso porque a homossexualidade era considerada uma doença, constando inclusive no DSM (Manual Diagnóstico dos Transtornos Mentais) até 1973. E a autora continua, em referência à IPA (Associação Psicanalítica Internacional):

Em circular enviada a todos os membros do secreto comitê, Ernest Jones relatava ter aconselhado contra a admissão, pela Sociedade Holandesa de Psicanálise, de um membro que “se sabia manifestamente homossexual”. Otto Rank e Freud discordavam da posição do colega, pois, para eles, a homossexualidade não era razão suficiente para a rejeição. Por outro lado, porém, a contratação não poderia tornar-se uma lei, “considerando os vários tipos de homossexualidade e os diferentes mecanismos que a causam”. Já para os berlinenses Karl Abraham, Hanns Sachs e Max Eitingon, esses indivíduos só deveriam ser admitidos se tivessem “outras qualidades a seu favor”. (Oliveira, 2016, p. 39)

Com isso, conclui-se que o principal problema é o risco de apropriação e simplificação da teoria psicanalítica (podendo ampliar essa simplificação para outros discursos que fazem parte do saber histórico da humanidade) para discurso com viés preconceituoso, intolerante e parcial. Já discutimos no caso Dora como ela sofria por se sentir reprimida intelectualmente, pela frustração de sua condição como mulher na sociedade e, portanto, com o casamento como sua única opção. Da mesma forma, Freud (1905) também comenta em seu texto sobre o risco de desenvolvimento de psicopatologias em filhos de pais separados, algo que na época era considerado um desvio familiar. Ayouch e Bulamah (2013) trouxeram uma série de exemplos ao longo da história da IPA, dentre outras instituições ao redor do mundo, nas quais somente em 1992 foi possível que essa exclusão caísse e as instituições finalmente aceitassem a presença de homossexuais. Assim podemos concluir que modelos teóricos são protótipos que precisam ser constantemente revistos e adaptados, ou como psicanalistas incorreremos no risco de nos colocarmos fora de contexto, fora daquilo que é relevante, pertinente e adequado para a sociedade atual e para nossos clientes, criando assim um falso problema, ou seja, uma questão que não pertence de fato à psicanálise e que não deveria ser considerada um problema em si. Não é a homoafetividade que traz uma falha de caráter ou social, ou mesmo fazendo parte de um erro genético; são as escolhas que fazemos, que provocam dor e constrangimento no outro, que precisam ser vistas como um problema real, tanto do ponto de vista da psicanálise quanto da sociedade como um todo.

FINALIZANDO

Nosso objetivo foi trazer de maneira detalhada o estudo de Freud “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”, emblemático para compreendermos o desenvolvimento psicossexual infantil e a formação sexual de homens e mulheres. Embora alguns tópicos pretendam ser tratados somente em outras aulas, como o Complexo de Édipo e o sadismo-masoquismo, alguns desses tópicos foram mencionados aqui para que os alunos compreendam sua conexão com o tema desenvolvido na aula de hoje uma vez que, ao longo da construção da teoria psicanalítica, Freud foi, aos poucos, revisitando e aprofundando sobre cada um desses conceitos, até que fosse possível ter uma proposta mais coerente sobre a estrutura do aparelho psíquico, a dinâmica das estruturas psíquicas e dos principais transtornos, e sobre a prática clínica. Os conceitos mais importantes apresentados aqui foram o conceito de libido, os tipos de desvios dessa libido (ao objeto e ao alvo), a natureza bissexual da criança e sua disposição perverso-polimorfa, as fases do desenvolvimento (oral, anal, fálica e genital), o período de latência, zonas erógenas/ pulsões parciais, as perversões e as psiconeuroses no desenvolvimento infantil, a amnésia infantil como protótipo da amnésia neurótica, a diferença entre pulsões sexuais e pulsões de autoconservação, o complexo de castração/ inveja do pênis, o complexo de Édipo e a curiosidade infantil, a libido narcísica (ou do ego) versus libido do objeto e a função da masturbação na infância, e a necessidade de contextualizar a teoria psicanalítica na sociedade, enquadrando e ponderando temas dentro do período histórico em que foram analisadas.

Esperamos que tenha aproveitado as discussões apresentadas aqui para conhecer um pouco mais das origens da psicanálise, e o convidamos a continuar acompanhando as aulas para saber mais sobre esse campo do saber tão envolvente como é a psicanálise.

REFERÊNCIAS

APA. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders DSM-5Washington: APA, 2013.

AYOUCH, T.; BULAMAH, L. C. A homossexualidade dos analistas: história, política e metapsicologia. Revista Percurso, n. 51, dezembro 2013, p. 115-126.

FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (1886-1899) – livro VII. Rio de Janeiro: Imago, 1977.

GARCIA-ROZA, L. A. Introdução à metapsicologia freudiana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. v. 1, v. 2 e v. 3.

LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário da psicanálise. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 552 p.

OLIVEIRA, A. A psicanálise “no armário”. Revista Psico. USP, n. 2/3, jul. 2016. p. 38-42.

ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de psicanálise. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. 874 p.

WHO. World Health Organization. ICD-11, 2022.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BIRMAN, J. Freud e a interpretação psicanalítica. Rio de Janeiro: Relumé-Dumará, 1991.

MEZAN, R. Freud: a trama dos conceitos. São Paulo: Perspectiva, 1980. 350 p.





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