O texto sobre o Projeto é, na verdade, um rascunho cuja intenção foi apresentar duas ideias: 1) que o próprio estado de repouso da mente está sujeito às leis do movimento e 2) que os neurônios são partículas materiais (como já mencionamos, a descoberta do neurônio ainda aconteceria). Assim Freud traz seu “princípio da inércia”, segundo o qual os neurônios se esforçam por eliminar toda a energia que possa eventualmente se acumular neles, e o “princípio da constância”, no qual Freud afirma que o organismo procura manter uma quantidade de energia constante ou tão baixa quanto possível.
Na teoria das “barreiras de contato”, Freud (1895) aborda a memória do tecido nervoso; nesse sentido, o tecido nervoso é capaz de, ao mesmo tempo, manter-se estável e dinâmico, uma vez que tem células capazes de permanecer intactas e células capazes de se modificar, de se transformar; aqui, o autor cita as células perceptuais (que apenas captam as informações) e células mnêmicas (que armazenam a informação captada). Na teoria das barreiras de contato, Freud (1895) afirma que há duas classes de neurônios: um que não se altera depois da passagem de uma energia de excitação (chamados de permeáveis), e outro que é mais sensível e, por isso, impede a maior parte da energia de excitação de passar por ele (impermeável).
Do ponto de vista biológico, Freud tem ciência de que sua hipótese é muito mais um modelo do que uma estrutura identificada em estudos de anatomia, o que não impede um pesquisador de criar um modelo teórico para facilitar a compreensão de sua proposta. Aliás, em seu estudo, Freud (1895) menciona que, tal como os estudiosos do neurônio, ele também acreditava que as terminações de um neurônio e suas conexões fossem a mesma coisa, o que não estaria de todo incorreto se formos pensar que tanto os dendritos quanto as terminações dos axônios cumprem a função de conexão. A Figura 3 ilustra o que hoje sabemos sobre os neurônios.
Esse funcionamento neuronal ocorre em conjunto com o princípio da inércia, ou seja, é papel desses três conjuntos de neurônios evitar o desprazer. Quando a quantidade de energia aumenta, eles se organizam para eliminá-lo, sendo que em baixa quantidade ou quantidade adequada (ou seja, com a produção de prazer) esses neurônios permanecem estáveis. De acordo com Laplanche e Pontalis (2001, p. 362), esse modelo do princípio de inércia é similar ao reflexo, pois, no arco reflexo, uma sensação experimentada é uma sensação captada pelo órgão e completamente descarregada por sua respectiva via sensorial (audição, olfato, paladar, visão). Dependendo da intensidade do estímulo, não há um efeito sobre o organismo (como quando estamos envolvidos em uma corrida e não sentimos pisar em uma pequena pedra, ou quando escutamos uma apresentação musical e não nos damos conta dos instrumentos que participam da audição); mas, quando há uma intensidade suficiente, nosso corpo reage ao estímulo, quer provocando o prazer, quer o desprazer. Caso o corpo encontre uma outra experiência ou outro objeto que possa cessar a sensação de dor, o sistema psíquico rapidamente associará esse novo objeto à experiência de cessação da dor, resgatando-o caso a dor volte a aparecer. Esse sistema está relacionado ao que Freud começa a chamar de ego, uma estrutura psíquica mediadora, que inibe processos aversivos e facilita a sensação de prazer, garantindo assim o equilíbrio do sistema nervoso.
A Figura 4 mostra que os caminhos do prazer e do desprazer seguem vias diferentes, muito embora a origem seja a mesma. E Freud (1895) resume de forma simples o fluxo de energia: quando o ego (ou seja, a instância que medeia a entrada e descarga de impulsos) catexizado (cheio de energia de investimento) é inibido (ou seja, reage inibindo essa energia que está nele), a descarga de energia necessária torna-se uma indicação de realidade (ou seja, a psique busca no corpo uma forma de descarregar essa energia, conectando-a diretamente com a realidade e com o que o corpo está sentindo no momento), permitindo assim a descarga de energia de forma específica e direta. Uma das formas mais comuns se dá nos sonhos, uma das primeiras vezes que Freud introduz esse assunto.
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